Título: Cúpula do PT tenta barrar Delúbio
Autor: Rosa, Vera
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/05/2009, Nacional, p. A8

Ex-tesoureiro quer voltar ao partido, mas dirigentes buscam evitar discussão do tema pelo Diretório Nacional

Vera Rosa

A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de absolver o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares da denúncia de "gestão fraudulenta" em um empréstimo concedido pelo BMG ao partido (leia nesta página) deu novo alento aos defensores da reintegração do petista. Mesmo assim, um grupo de dirigentes do PT fará de tudo para impedir, na reunião de hoje do Diretório Nacional, que o desgaste provocado à legenda e ao governo na crise do mensalão, em 2005, volte à cena política. Sob a orientação do Planalto, parte da cúpula petista tentará retirar da pauta o pedido de Delúbio, que quer se refiliar ao PT três anos e meio após sua expulsão para se candidatar a deputado federal.

Até ontem, o grupo contrário ao ex-tesoureiro tinha maioria, mas a decisão do STF - embora referente a uma pequena parte do rol de acusações que pesam contra ele, como corrupção ativa e formação de quadrilha - animou os simpatizantes de sua volta. Preocupado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou novos sinais aos integrantes de sua corrente, Construindo um Novo Brasil: não quer nem que o PT analise o mérito do pedido de Delúbio, o que significa excluir o espinhoso assunto da pauta do diretório.

Lula considera "inoportuno" o retorno de Delúbio ao PT, neste momento, por razões mais pragmáticas do que por juízo de valor. Na avaliação do presidente, a reintegração do amigo que comandava as finanças do PT vai reabrir feridas e provocar estragos na campanha da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata do PT ao Planalto, em 2010, justamente na hora em que ela precisa de apoio para se firmar.

Desde que divulgou estar em tratamento para combater um câncer no sistema linfático, Dilma enfrenta rumores de que será substituída por outro candidato. Apesar dos boatos, Lula e o PT não trabalham com essa hipótese, ao menos por enquanto. Na tentativa de reafirmar o aval a Dilma e enquadrar petistas que se lançam nos Estados antes de negociações com o PMDB - como o ministro da Justiça, Tarso Genro, que está de olho no governo gaúcho e já comprou briga com o presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP) -, a cúpula do partido destacará hoje que a aliança nacional prevalece sobre interesses regionais.

Dilma também já disse a dirigentes do PT que não acha aconselhável o partido aprovar a volta de Delúbio agora, embora o ex-prefeito do Recife João Paulo Lima e Silva - coordenador de sua campanha no Nordeste - seja um dos defensores do ex-tesoureiro. João Paulo já apareceu até em blog que contém mensagens de apoio a Delúbio.

Nas várias reuniões de correntes transcorridas ontem, ficou claro que o tema divide o PT. Para Francisco Rocha, coordenador da tendência Construindo um Novo Brasil, impedir o retorno de Delúbio é um "comportamento hipócrita". "Tem gente que cospe no prato em que comeu", insistiu ele, numa referência aos que se beneficiaram dos recursos distribuídos pelo ex-tesoureiro em campanhas anteriores.

Para ter sua filiação aceita, Delúbio precisa dos votos de metade mais um dos integrantes do diretório (43 dos 84 petistas). "Será uma questão polêmica, mas o que temos de discutir é se realmente convém ao PT entrar num debate assim neste momento", afirmou o secretário-geral do PT, deputado José Eduardo Martins Cardozo (SP). "O Diretório Nacional do PT não deve pautar esse tema agora porque essa discussão já foi interrompida em 2005. Temos evitado dar tiro no pé", completou Joaquim Soriano, secretário de Formação Política.

Os petistas contrários a Delúbio acreditam que, se conseguirem retirar o assunto da pauta, ele procurará o PMDB para se filiar, porque não tem tempo hábil para esperar novo julgamento. Para se candidatar, precisa estar filiado a um partido um ano antes da eleição.