Título: BC tem conhecimento insuficiente da economia
Autor: Amorim, Silvia; Bramatti, Daniel
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/05/2009, Nacional, p. A4

Em nova crítica à autoridade monetária, governador diz que País perdeu momento perfeito para cortar juro

Leandro Modé

Crítico de longa data da política de juros adotada no Brasil, o governador de São Paulo, José Serra, fez ontem mais um duro ataque ao Banco Central (BC) comandado por Henrique Meirelles. Para ele, a instituição tem "conhecimento insuficiente" da economia brasileira.

"No auge da crise, (o BC) desperdiçou um momento que era perfeito para resolver um impasse estrutural antigo", afirmou, referindo-se à alta taxa brasileira (Selic), atualmente em 10,25% ao ano. "O ideal seria o BC ter reduzido excepcionalmente, de uma vez só, sem pré-aviso, a Selic em 3 ou 4 pontos porcentuais."

Na avaliação de Serra, esse "equívoco" está na origem da atual enxurrada de dólares no País, que levou o BC a comprar a moeda americana no mercado à vista ontem e sexta-feira. Desde setembro, a autoridade monetária não fazia esse tipo de intervenção.

Ontem, o dólar caiu 0,44% e fechou cotado por R$ 2,059, menor valor desde 3 de outubro do ano passado. No acumulado de 2009, o real tem ganhos de 13,4% ante a moeda americana.

Analistas de mercado financeiro identificaram nas últimas semanas um forte fluxo de recursos de investidores estrangeiros para o Brasil. O governador paulista e outros economistas considerados "heterodoxos" atribuem a reversão da trajetória cambial à especulação.

São investidores que tomam dinheiro emprestado em países com juros baixos para aplicá-los em outros, com taxas significativamente mais altas.

Por exemplo: um aplicador levanta dinheiro nos Estados Unidos, onde o juro está perto de zero, e coloca no Brasil, que paga 10,25% ao ano (em termos brutos, sem considerar o pagamento de impostos). No jargão do mercado, esse movimento é chamado de carry-trade.

Quando o banco de investimentos americano Lehman Brothers quebrou, no dia 15 de setembro do ano passado, a taxa Selic estava em 13,75% ao ano. A concordata da instituição acelerou e aprofundou a crise econômica global, que já se formava. O nível do juro básico foi mantido pelo BC até janeiro, quando o Comitê de Política Monetária (Copom) o cortou em um ponto, para 12,75%.

Para Serra, o BC cometeu "um erro de política econômica" ao não reduzir antes a Selic. "(O BC) tem um conhecimento insuficiente da economia e seus modelos partem de demasiadas suposições não muito realistas", atacou. "Não tenho interpretação maligna a propósito desses equívocos. Mas nem por isso deixam de ser equívocos."

O governador avalia que baixar o juro hoje é mais delicado do que no fim de 2008, porque a economia global começa a dar sinais de recuperação. "O momento para dar a virada, a meu ver, passou, mas isso não significa que devemos ficar passivos", disse. Por isso, defendeu que o BC reduza a Selic em ao menos um ponto porcentual na próxima reunião do Copom, que ocorrerá nos dias 9 e 10 de junho.