Título: Chávez ocupa instalações de 60 empresas do setor petrolífero
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/05/2009, Internacional, p. A14

Barcos e docas são tomados; medida alivia PDVSA, que acumulava dívidas com as prestadoras de serviços

CARACAS

O presidente venezuelano, Hugo Chávez, liderou ontem a tomada de controle dos ativos de 60 prestadoras de serviço do setor petrolífero que operam no Lago Maracaibo, no Estado de Zulia.

Militares tomaram as ruas da Cidade Ojeda, à beira do Maracaibo, onde apreenderam vários barcos. Horas antes, a estatal petrolífera PDVSA já havia assumido as instalações de um importante projeto de gás da americana Williams Companies.

Segundo o ministro de Energia, Rafael Ramírez, deveriam ser expropriados no total "300 barcos, 30 rebocadores, 30 balsas, 39 terminais portuários e docas, 61 lanchas de mergulho, 5 diques de estaleiro e 13 oficinas". Cerca de 8 mil trabalhadores também serão absorvidos pelo governo.

"Estamos libertando não apenas docas, lanchas e rebocadores, mas também vocês (trabalhadores) do jugo do capitalismo", disse Chávez enquanto cumprimentava funcionários das empresas expropriadas, que agora trabalharão para a PDVSA. "Essa é uma ofensiva revolucionária", completou, do alto de uma embarcação confiscada.

Além da Williams Companies, outras estrangeiras que podem ser afetadas são a Shlumberger (a maior prestadora de serviço do setor, com projetos em 80 países), a americana Halliburton, a italiana Petrex e a britânica John Wood Group. A última - que tinha 49,5% de uma empresa contratada por US$ 800 milhões para fazer injeção de água nos poços petrolíferos da região durante 16 anos (o serviço é necessário para manter a pressão nos poços) - já disse que exigirá indenização.

As expropriações foram feitas com base numa lei aprovada na quinta-feira pela Assembleia Nacional venezuelana, que declara de "interesse público e social" todas as empresas que atuam no setor dos hidrocarbonetos na Venezuela - desde as que fazem o transporte de materiais e equipamentos até as que injetam água e gás nos poços.

Seu objetivo, segundo analistas, é livrar a PDVSA das dívidas e outros compromissos que a estatal têm com essas prestadoras de serviços - e que não está conseguindo honrar por causa da queda dos preços do petróleo.

"Estamos avançando na construção do socialismo", afirmou Chávez em rede nacional de rádio e TV, pouco antes de liderar a tomadas das instalações em Zulia. Segundo o presidente, a expropriação dos ativos das prestadoras de serviço permitirá uma redução de até 20% nos custos da produção da PDVSA.

Zulia é um dos principais redutos da oposição venezuelana e produz a maior parte do petróleo exportado pelo país. Em março, Chávez tomou o controle de seus portos e aeroportos, que antes estava nas mãos dos governos locais, numa tentativa de esvaziar o poder da oposição.

ESTATIZAÇÕES

As estatizações são o eixo do projeto socialista que o presidente venezuelano está tentando implementar na Venezuela. Em 2007, Chávez nacionalizou a produção de petróleo na Bacia do Rio Orinoco, obrigando as estrangeiras que operavam na Venezuela a formar joint ventures nas quais a PDVSA hoje tem participação majoritária.

REUTERS, AP AFP E EFE

ESTATIZAÇÕES

Petróleo - Em 2007, Hugo Chávez assumiu o controle acionário de quatro projetos na Bacia do Rio Orinoco. As empresa petrolíferas americanas Exxon e Conoco Phillips deixaram a Venezuela

Telecomunicações - O presidente venezuelano nacionalizou em seguida a CANTV, maior companhia de telecomunicações da Venezuela, ao comprar parte da empresa dos EUA

Energia - O governo Chávez arrematou por US$ 740 milhões parte da empresa americana AES, a maior produtora privada de energia da Venezuela

Bancos - Chávez anunciou em 2008 que compraria o Banco da Venezuela, filial do espanhol Santander

Aço - Governo chavista assumiu o controle da Sidor, empresa que era de capital argentino

Portos - Para limitar o poder da oposição, Chávez passou a controlar portos e aeroportos em Estados governados por rivais