Título: Lula, Franklin e Múcio traçaram estratégia
Autor: Samarco, Christiane; Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 19/05/2009, Nacional, p. A4

O governo já dá a CPI da Petrobrás como "fato consumado", mas vai tentar fazer do limão uma limonada: a estratégia é carimbar o PSDB como partido que age de olho em dividendos políticos, sem se importar em causar "instabilidade" à maior estatal do País, mesmo em momento de crise. O tom do contra-ataque, dado no fim de semana pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao dizer que o PSDB adotou atitude "irresponsável" e "impatriótica", tem o objetivo de isolar os tucanos e jogá-los contra a opinião pública.

A tática começou a ser alinhavada na sexta-feira, quando Lula - antes de embarcar para viagem de uma semana à Arábia Saudita, China e Turquia - se reuniu no Palácio da Alvorada com os ministros Franklin Martins (Comunicação Social) e José Múcio Monteiro (Relações Institucionais).

Ali ficou acertado que o governo faria tudo para abortar a CPI, mas não perderia de vista o foco antitucano. Detalhe: o PSDB do governador de São Paulo, José Serra - pré-candidato à sucessão de Lula -, deverá ser o principal adversário do Planalto na eleição de 2010, provavelmente contra a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT).

"Lamento que tenhamos chegado a esse ponto", disse Múcio. "O motor da nossa economia é a Petrobrás e estranhamos essa posição do PSDB de querer atrapalhar o trabalho e os investimentos da maior empresa do Brasil na semana em que ela está assinando um contrato gigantesco com o governo chinês."

Não é à toa que os governistas nunca citam o DEM em seus comentários, embora vários senadores do partido tenham assinado o requerimento da CPI. O Planalto acredita que parlamentares do DEM tentaram respeitar o acordo de líderes firmado na quinta-feira, quando todas as siglas se comprometeram a não instalar a CPI antes de ouvir o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli.

Agora, o governo aposta na divisão entre o PSDB e o DEM, em mais uma tentativa de circunscrever o tucanato no script da falta de patriotismo. "Eu acho que isso é uma coisa inacreditável", protestou o senador Mário Couto (PSDB-PA). "Quer dizer que a Petrobrás pode roubar, pode fazer campanha política e ninguém pode fiscalizar?"

Nos bastidores do Planalto, o comentário é que "um pedaço" da briga para desgastar o governo tem como pano de fundo a repartição da Cide. É que, com a manobra contábil feita pela Petrobrás para obter compensações fiscais de R$ 4 bilhões, os Estados perderam uma fatia de R$ 240 milhões referente à Cide. Na avaliação de interlocutores de Lula, tanto Serra quanto o governador de Minas, Aécio Neves, estão por trás da rebelião dos tucanos.