Título: Dilma rechaça cargos na Petrobrás para PMDB em troca de apoio na CPI
Autor: Monteiro, Tânia; Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 23/05/2009, Nacional, p. A4

Na volta ao trabalho, ministra e afirma que ?não há a menor hipótese? de mudanças na diretoria da empresa

Tânia Monteiro e Leonencio Nossa

Após três dias dedicados ao tratamento de sua saúde, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, antecipou ontem a volta ao trabalho. A missão é tentar barrar a barganha do PMDB por cargos na Petrobrás em troca de apoio ao governo na CPI instalada no Senado para investigar a estatal. A ministra, que também preside o conselho de administração da empresa, afirmou que "não há a menor hipótese" de mudanças na atual diretoria. "Isso não está em cogitação. Não há, até agora, por parte do governo, isso. Nem sinal de alguém pedir isso para nós."

Dilma saiu em defesa do diretor executivo de Exploração e Produção da Petrobrás, Guilherme Estrella, alvo dos peemedebistas. Como antecipou o Estado na quinta-feira, o PMDB quer indicar um nome para a diretoria de Exploração e Produção da estatal, conhecida como "diretoria de pré-sal", ocupada pelo petista Estrella. Com esse objetivo em foco, o partido espera a volta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de sua viagem ao exterior, para indicar os nomes dos senadores que vão integrar a CPI.

A área de Exploração e Produção foi batizada pelo ex-deputado Severino Cavalcanti de "diretoria do fura-poço". Atualmente, é o setor responsável pelas pesquisas na camada pré-sal.

A ministra não deixou espaço para negociação. "Meu apoio ao diretor Estrella é irrestrito", ressaltou. "É um dos melhores da Petrobrás. É um homem íntegro, um técnico competentíssimo e um geólogo de primeira."

O PMDB, em sociedade com o PP, quer emplacar no lugar de Estrella o atual diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa. O partido já é dono da indicação de Jorge Luiz Zelada, diretor da Área Internacional. Para o caso de ser bem-sucedido nessa empreitada, o partido também já fez chegar ao governo o desejo de preencher a vaga que seria aberta na diretoria de Abastecimento, totalizando três diretorias.

Indagada sobre as pressões do PMDB, Dilma evitou polemizar. "Isso (a contrapartida) é parte da história, faz parte do jogo", observou.

CAMPANHA

Na entrevista, a ministra ainda contra-atacou a oposição. "Essa história de falar que a Petrobrás é uma caixa-preta, ela pode ter sido caixa-preta em 97, 98, 99 e 2000", afirmou, numa referência ao período em que os tucanos estavam no poder.

A ministra chegou a ficar com a voz embargada ao defender a empresa. "Tem hora que eu fico um pouco emocionada, porque além de eu achar a Petrobrás estrategicamente muito importante para o Brasil, um símbolo para nós da nossa própria capacidade no que se refere a tecnologia, ela também é a empresa do meu coração", ressaltou. "De Petrobrás eu entendo e acho que a Petrobrás é uma empresa importante não só do ponto de vista estratégico para o Brasil. Também por ser a maior empresa, a maior empregadora, a maior contratadora de serviços e a empresa que hoje ocupa e vai ocupar cada vez mais, a partir do pré-sal, um espaço muito grande."

RIGOR

Dilma observou que a Petrobrás é uma S.A., controlada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e com ações na Bolsa de Nova York. Ao comentar sobre a instalação da CPI no Senado, disse que a empresa tem de ser "preservada" e pode ser fiscalizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pelo Ministério Público.

Ressaltou ainda que ela atende às regras da Lei Sarbanes-Oxley, assinada em 2002 pelo governo de George W. Bush como uma resposta aos escândalos da contabilidade de megacorporações, como a Enron. "É uma das leis mais rígidas no que se refere a demonstrações contábeis, a explicitações para controle do acionista e do investidor de todas as contas estratégicas da empresa."