Título: Bastos diz na Justiça que mensalão não existiu
Autor: Freitas, Carolina
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/05/2009, Nacional, p. A10

Igual declaração foi dada por Aldo Rebelo; ambos são testemunhas de defesa de José Dirceu

Carolina Freitas

O ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos afirmou ontem à Justiça Federal em São Paulo ter convicção de que o mensalão não existiu. Bastos depôs como testemunha de defesa do ex-ministro José Dirceu (Casa Civil) em audiência conduzida pela juíza Silvia Rocha, titular da 2ª Vara Criminal Federal. Ela cumpre carta de ordem do Supremo Tribunal Federal, onde tramita o processo contra 40 réus do mensalão, suposto esquema de pagamento de propina a parlamentares da base aliada do governo.

À saída do fórum federal, indagado se acreditava na existência do esquema, o ex-ministro foi categórico. "A minha convicção é de que não", disse. Ele evitou comentar sobre suas expectativas a respeito do resultado da ação criminal. "A Justiça vai ser feita", resumiu. Bastos contou ter feito um "depoimento rápido sobre atributos pessoais" de Dirceu, acusado pelo Ministério Público de liderar o esquema no Congresso.

Ex-deputado - teve seu mandato cassado em dezembro de 2005 -, Dirceu é formalmente processado pelos crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha. "Ele (Dirceu) é um sujeito disciplinado e preparado. Nunca o vi trabalhar menos de 12 horas na Casa Civil", comentou o ex-ministro. Bastos disse que recorreria a memórias familiares para evocar qualidades de Dirceu. "Antes de a gente se conhecer, já tínhamos relação familiar. Meu pai e minha mãe foram padrinhos de casamento dos pais dele."

"Não existiu mensalão", afirmou o deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), outra testemunha de Dirceu. "Não tive conhecimento nem vi esse esquema funcionando", disse. Ele depôs ainda como testemunha de defesa do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), que denunciou o mensalão e também foi cassado.

Ao ser questionado sobre como poderia depor ao mesmo tempo a favor de Jefferson e de Dirceu, o deputado respondeu: "A testemunha é da Justiça. As perguntas são feitas e cabe a ela cotejar minhas respostas com o que os advogados de cada um dos réus apresentar."

O advogado Luiz Francisco Barbosa, defensor de Jefferson, disse que entrará no STF com pedido de acareação entre Thomaz Bastos e Aldo. Segundo Barbosa, os dois teriam caído em contradição sobre a atuação do governo no caso. O advogado afirmou que o ex-ministro teria declarado que houve uma investigação formal no âmbito da União. Aldo, por sua vez, teria dito que a investigação foi apenas informal.