Título: Cuba aceita diálogo com EUA
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/06/2009, Internacional, p. A10

Às vésperas da cúpula da OEA, Havana responde à proposta de negociação direta sobre imigração feita por Obama

NYT, WASHINGTON

Cuba notificou os EUA de que deseja retomar negociações sobre imigração e o estabelecimento de serviços postais diretos entre os dois países. A informação foi revelada ontem por um funcionário de alto escalão do governo americano ao jornal The New York Times.

Segundo o funcionário, Havana também teria concordado em cooperar com Washington no combate ao terrorismo, na apreensão de drogas e em planos de emergência contra desastres naturais. Transmitidas no sábado por meio de notas diplomáticas, as decisões representam mais um passo na normalização das relações entre a ilha e os EUA, após meio século de hostilidades e de um controvertido embargo econômico.

A secretária de Estado Hillary Clinton elogiou ontem o sinal de abertura de Havana. "Estamos muito satisfeitos que o governo cubano tenha concordado em conversar sobre imigração e correios", disse.

No início do mês, o governo do presidente Barack Obama deu sinais de que está disposto a reabrir um canal de diálogo direto com Havana, ao propor encontros bilaterais sobre imigração. Essas iniciativas parecem ter ganhado força após a realização, em abril, da reunião das Américas, em Trinidad e Tobago, durante a qual Obama disse aos líderes latino-americanos que "os EUA buscam um novo começo com Cuba".

Hillary viajou a El Salvador, onde participa hoje da posse do presidente eleito Mauricio Funes. Em seguida, vai a Honduras para a reunião de amanhã da Organização dos Estados Americanos (OEA).

Países-membros da organização pressionam os EUA e devem pedir a readmissão de Cuba na OEA. A ilha foi suspensa em 1962 da instituição, sob o argumento de que, ao integrar o "bloco comunista", ameaçava o sistema interamericano.

Hillary declarou no início do ano ao Senado que os EUA seguiam determinados a vetar a admissão de Cuba na OEA até que Havana aceitasse os princípios democráticos da organização. Sem isso, disse, "não vejo como Cuba possa fazer parte".

Os membros da instituição, em geral, tentam atingir decisões consensuais, mas é possível que sejam obtidos os 23 votos necessários para aprovar uma resolução contrária à posição dos EUA. De sua parte, Cuba disse não ter interesse em voltar a fazer parte de uma organização descrita recentemente pelo jornal Granma como "a decrépita casa de Washington".

Encontros de alto escalão entre os dois países foram realizados com regularidade nos anos 1990, após o estabelecimento de um acordo entre Cuba e EUA. O objetivo do pacto era conter o fluxo de cubanos que tentavam fugir da ilha rumo aos EUA, com frequência a bordo de precárias embarcações.

O então presidente George W. Bush pôs fim às reuniões bilaterais em 2004, praticamente suspendendo toda comunicação com Cuba.

O Departamento de Estado declarou recentemente que os EUA procuraram retomar as negociações para "reafirmar o compromisso de ambos os lados com a imigração legal, segura e organizada".

Há dois meses, Obama - que deixou clara sua disposição em conversar mesmo com tradicionais inimigos dos EUA - suspendeu as restrições às viagens e às remessas de dinheiro de cubano-americanos à ilha.

O assunto ainda é de grande sensibilidade política. Membros cubanos americanos da delegação da Flórida no Congresso, todos eles republicanos, já denunciaram a proposta de reabertura das negociações como "concessão à ditadura feita de forma unilateral pela administração Obama".

APROXIMAÇÃO CAUTELOSA

Dezembro de 2008 - Países que participam da Cúpula da América Latina e do Caribe, na Costa do Sauipe (BA), pedem fim do embargo dos EUA a Cuba

Março de 2009 - Congresso dos EUA suspende restrições de viagens e remessas de dinheiro à ilha, impostas por Bush

13 de abril - Obama oficializa fim de restrições de viagens e remessas, e oferece ?diálogo aberto? a Raúl Castro

17 de abril - Obama participa da 5 ª Cúpula das Américas, em Trinidad e Tobago. Países da região voltam a cobrar fim dos 47 anos de embargo a Cuba

22 de maio - EUA propõe a Havana diálogo sobre imigração, suspenso desde 2003

31 de maio - Funcionário dos EUA afirma que Cuba aceitou convite ao diálogo com os EUA

2 de junho - OEA deve discutir volta de Cuba à organização