Título: Fundos podem salvar a Gradiente
Autor: Friedlander, David
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/05/2009, Economia, p. B9

Plano é criar empresa que teria Petros, Funcef, o governo do Amazonas e a americana Jabil como sócios de Staub

David Friedlander

Envolvido em crises sucessivas nos últimos anos, o empresário Eugênio Staub, fundador da Gradiente, já caiu e levantou algumas vezes. Agora, em meio ao pior momento de sua história, Staub costura uma operação de salvamento com forte participação estatal. O plano é criar uma nova empresa, livre de dívidas, que teria os seguintes sócios: uma multinacional americana da área eletrônica chamada Jabil, a agência de fomento do governo do Amazonas, os fundos de pensão dos funcionários da Petrobrás (Petros) e da Caixa Econômica Federal (Funcef), além da própria família Staub.

Haveria ainda a participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), mas não como acionista da nova empresa. O BNDES emprestaria os recursos que a Gradiente precisa para acertar suas dívidas, de cerca de R$ 300 milhões, com bancos e fornecedores. A negociação é liderada por Staub e pelo Bradesco, um dos principais credores da empresa.

Símbolo da indústria eletrônica no passado, a Gradiente começou a perder o rumo nos anos 90, quando o País abriu suas fronteiras aos produtos importados. Como outras empresas nacionais, a Gradiente não resistiu à agressividade de novas marcas estrangeiras. Chegou a faturar mais de R$ 1 bilhão por ano. Hoje, duas de suas fábricas na Zona Franca de Manaus (AM) estão paradas e a terceira foi alugada à montadora de motocicletas Honda.

A operação de resgate já estaria quase toda combinada, mas sua concretização ainda depende de alguns acertos. O mais decisivo envolve os principais credores da Gradiente, que precisam aceitar um desconto significativo nas dívidas que têm a receber. Há cerca de um mês, Staub tinha conseguido 80% de adesão. De lá para cá, o processo não progrediu.

O empresário precisa da aceitação total dos credores para conseguir o financiamento do BNDES - e assim liquidar suas dívidas. Esse acerto, por sua vez, é condição essencial para a criação da nova empresa. Segundo o plano de negócios apresentado por Staub a parceiros, a nova empresa nasceria com um capital de R$ 150 milhões. Metade disso seria aportada pelos Staub, que entrariam com fábricas e equipamentos. A Jabil entraria com R$ 25 milhões, os fundos de pensão com R$ 17 milhões cada e a agência de fomento do Amazonas com o resto.

SILÊNCIO

A maior parte das pessoas envolvidas prefere distância do assunto até que esteja tudo resolvido. Temem que informações fora de hora atrapalhem o processo, já que ele envolveria ajuda do governo a um empresário muito ligado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Staub foi o primeiro industrial de peso a declarar apoio a Lula, na campanha de 2002. Depois da eleição, tornou-se conselheiro do BNDES. No ano passado, o próprio Lula declarou publicamente que faria o que estivesse a seu alcance "para ajudar a Gradiente a voltar a produzir".

Procurado, Staub mandou dizer que o projeto de recuperação da Gradiente está em andamento mas, por razões de contrato, está impedido de falar a respeito. A Jabil, na sexta-feira, não tinha ninguém disponível para comentar o assunto. Por meio de suas assessorias de imprensa, a Funcef disse que "não há o que comentar". A Petros afirmou que "no momento, a Petros não tem estudos sobre o assunto". O único que se manifestou foi o governo do Amazonas.

"Estamos analisando, mas posso adiantar que vemos a ideia com muita simpatia", afirma Pedro Falabella, diretor presidente da agência de fomento do Amazonas. "Entrar como sócio de uma empresa nova, com dívidas saneadas e produtos novos, é uma forma inovadora de fomentar o desenvolvimento." Falabella, no entanto, preferiu não dar detalhes sobre o investimento e disse que não sabia quem seriam os outros sócios da nova Gradiente.

A nova empresa já recebeu autorização da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) para funcionar. Vai se chamar Companhia Brasileira de Tecnologia Digital (CBDT) e usará a marca Gradiente, que seria arrendada. Pela documentação apresentada à Suframa, produziria aparelhos reprodutores de DVD, notebooks, home theaters e televisões com monitor de cristal líquido.

As conversas em torno do salvamento da Gradiente começaram em meados do ano passado. No começo, Staub queria o BNDES como sócio. O banco não topou, mas aceitou financiar a dívida da Gradiente.

CONTRASTE

O mais chocante na situação da Gradiente é o contraste com o que ela foi no passado. Marca respeitada pelo consumidor, foi uma das líderes do mercado de equipamentos de som e era forte na venda de televisores. Produziu aparelhos celulares em parceria com a finlandesa Nokia. No ano 2000, vendeu sua metade na empresa à Nokia por US$ 450 milhões.

Parecia que o futuro dos negócios de Staub estava garantido. Mas a Gradiente não decolou. Ela afundou, segundo os analistas, em razão de uma série de decisões erradas. Comprou a Philco e a vendeu pouco depois, entrou e saiu do ramo de computadores pessoais duas vezes e tentou outros negócios que não deram certo. Staub tenta agora se levantar mais uma vez.