Título: Ministro não quis comentar atraso para cobrança
Autor: Leal,Luciana Nunes
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2009, Nacional, p. A8

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, afirmou ontem que "não foi nenhum erro", mas não quis comentar o atraso de quase nove meses na aplicação de uma multa de R$ 3 milhões ao Grupo Bertin S/A, uma das maiores redes de frigoríficos do País. O grupo teria salvo a Operação Boi Pirata de um final constrangedor ao arrematar, em 2008, 3.062 bois apreendidos pelo ministro em área desmatada.

Segundo reportagem publicada domingo pelo Estado, a multa só saiu da gaveta quando a denúncia de que teria sido "negociada" começou a circular em Brasília. "O Ibama vai lançar uma nota explicando isso. O pregão eletrônico foi organizado pela Conab, que é do Ministério da Agricultura. Quem fala sobre isso é o Ibama. Está tudo certo, a nota vai esclarecer", declarou Minc.

Antes, em discurso no Palácio Guanabara, sede do governo do Rio, o ministro fez referência indireta ao anúncio de que poderá ser convocado pela Comissão de Agricultura da Câmara para prestar esclarecimentos sobre o caso Bertin.

"Quero dar um recado para todos aqueles que acham que, com gritaria, ameaça e convocação, vão nos desviar do nosso papel de proteger a Amazônia, o Pantanal e a Mata Atlântica. Não vamos nos desviar um centímetro. Quem quiser bater, pede senha. A luta é a defesa do Brasil. Não vão destruir a Amazônia", ressaltou o ministro.

Segundo Minc, serão anunciados hoje dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) referentes a fevereiro, março e abril que mostrarão uma "redução acentuada" do desmatamento na comparação com o mesmo período do ano passado. Ele aproveitou a previsão para afirmar que está contrariando interesses no governo e que não cederá à "pressão de desmatadores e ruralistas que acham que vão intimidar o ministro do Meio Ambiente".

Minc sublinhou ainda que na sua gestão o País terá "o menor desmatamento dos últimos 20 anos, graças a medidas duras que geraram muita resistência". "A gente contraria interesses. Tem gente querendo meter pecuária em qualquer lado. Essa turminha está atrás de mim. Cada um quer vier com machadinha tirar uma picanha do Carlinhos Minc. Eu já disse que isso não é fácil assim", discursou.

LIÇÕES

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu programa de rádio Café com o Presidente, também falou sobre desmatamento. Ele disse que quer "legalizar, definitivamente", a Amazônia. "Quanto mais desmatamento houver, quanto mais queimadas houver, menos qualidade de vida terão os nossos filhos", afirmou.

Para Lula, o Brasil "dá lições" ao mundo sobre o que fazer para reduzir as queimadas e o desmatamento. Ele acentuou que os números mostram que o País está no caminho certo.

Nos últimos seis anos, garantiu o presidente, o Brasil criou 25 milhões de hectares de áreas de conservação na Amazônia, que fazem parte do Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Esses locais, segundo ele, visam "pura e simplesmente" à proteção da biodiversidade e a manutenção do ecossistema do País.

O presidente mencionou ainda, como ações ambientais do governo, a homologação de 10 milhões de hectares de terras de índios, como as da Reserva Raposa Serra do Sol, a sanção da Lei de Gestão de Florestas Públicas e a criação do Serviço Florestal Brasileiro, entre outros. Lula reforçou também o apoio ao Protocolo de Kyoto.