Título: Nascimento da nova GM será doloroso
Autor: Mello,Patrícia Campos
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2009, Economia, p. B1

Obama anuncia concordata da montadora e promete a criação de uma empresa mais competitiva e ágil

Patrícia Campos Mello

A GM entrou com pedido de concordata ontem, em um tribunal de Nova York. O presidente americano, Barack Obama, admitiu que o processo de renascimento da empresa será "doloroso para os americanos", mas prometeu uma GM mais competitiva e ágil. "O dia de hoje marca o fim da velha GM e o início de uma nova GM, que vai fabricar carros do amanhã - seguros, de alta qualidade e econômicos", disse.

O governo vai injetar mais US$ 30 bilhões na montadora, além dos US$ 20 bilhões que já emprestou, e será acionista majoritário da nova GM, com 60% de participação. Mas Obama tentou tranquilizar investidores preocupados com a interferência da Casa Branca, dizendo que os EUA são "acionistas relutantes" e o governo não está interessado em "mandar na GM". O plano de reestruturação permitirá que a GM saia rapidamente da concordata como uma companhia mais forte, disse Obama.

A GM anunciou que vai demitir 20 mil funcionários, fechar 17 fábricas e centros de autopeças até o fim de 2011 e romper contrato com 2.600 concessionárias. Além disso, pretende eliminar a marca Pontiac, vender a Hummer e a Saturn, que também entrou em concordata ontem. A Casa Branca espera que a GM vá emergir da concordata bem menor, mas lucrativa. Em seu discurso, Obama evitou falar em "concordata" - demorou 20 minutos para pronunciar a palavra - e tentou passar otimismo.

Segundo o plano de concordata, o Tesouro americano dará mais US$ 30 bilhões para a GM se reestruturar, e o governo canadense deve contribuir com US$ 9,5 bilhões. Na nova GM, inicialmente o Tesouro teria 60%, o governo canadense e do Estado canadense de Ontário ficam com 12,5%, um fundo de assistência médica do sindicato teria 17,5% e os credores ficariam com 10%. Mas os detentores de títulos poderiam comprar mais 7,5% depois que a nova GM atingir o valor de mercado de US$ 15 bilhões - e mais 7,5% se o valor chegar a US$ 30 bilhões, atingindo o total de 25%.

O sindicato, que inicialmente terá 17,5%, pode elevar sua participação para 20%, mas somente quando a GM estiver valendo US$ 75 bilhões. Quando o sindicato e os credores tiverem atingido suas participações máximas, o Tesouro e o governo canadense terão sua participação reduzida.

A GM teve de recorrer à concordata porque chegou ao fim do prazo estabelecido pelo governo para apresentar um plano viável de reestruturação, sem conseguir a redução de dívidas que a Casa Branca exigia. A concordata da GM será a maior de uma indústria na história. A GM tem US$ 82,3 bilhões em ativos e dívidas de US$ 172,8 bilhões. Sua participação de mercado caiu de 45%, em 1980, para 22% no ano passado. As vendas vêm caindo há 18 meses consecutivos.