Título: GM do Brasil terá de se virar sozinha
Autor: Silva,Cleide
Fonte: O Estado de São Paulo, 02/06/2009, Economia, p. B4

Após concordata da matriz, desafio da subsidiária brasileira será maior

Cleide Silva

A General Motors do Brasil terá de buscar novas formas de financiamento e recorrer mais aos fundos governamentais, como Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para garantir projetos no País. Sem o apoio da matriz americana, que na prática passa a ser uma empresa estatal, os desafios de manutenção da subsidiária serão maiores.

O mesmo deve ocorrer com filiais como a da China e de outras regiões não incluídas na concordata anunciada ontem. "Todas terão de se virar para sobreviver, pois talvez não haverá mais matriz para socorrê-las", diz Paulo Cardamone, responsável no Brasil pelo escritório da consultoria americana CSM WorldWide.

Apesar de nos últimos anos ter mais enviado dividendos do que recebido, a GM brasileira sempre contou com apoio da matriz nos seguidos períodos de prejuízos que registrou antes de 2004, quando passou a ter resultados positivos. "Certamente, a partir de agora ela terá menos suporte financeiro da nova GM", afirma Cardamone.

O consultor acha que, por ser rentável, a filial brasileira não terá dificuldades em obter crédito local. Ele aposta na capacidade da engenharia brasileira em desenvolver novos projetos, mas reconhece que "começar do zero para criar um carro não é fácil". O Brasil tem tecnologia para isso, avalia o consultor, mas o custo de um projeto inteiro é alto e o desenvolvimento pode levar muito mais tempo.

Cardamone acredita que, por ter mais afinidades com os produtos desenvolvidos pela GM na Europa, na divisão Opel, a GM do Brasil terá condições de manter acordos com a autopeça canadense Magna, que junto com um grupo de investimentos russo ficou com a maior parte das ações da companhia.

Ele ressalta que 35% das ações ainda ficarão sob controle da GM, o que pode afastar riscos de não fornecimento de plataformas para novos veículos. Hoje, apenas os modelos Celta e Montana foram totalmente desenvolvidos no País.

Para o diretor da consultoria Jato Dynamics do Brasil, Luiz Carlos Augusto, pode haver receio dos consumidores em adquirir veículos da GM. "Sempre há o risco de problemas na imagem", admite, embora veja a marca Chevrolet como "muito forte no mercado".

Nos cinco primeiros meses do ano, as vendas da GM no mercado brasileiro caíram 10% em relação ao mesmo período do ano passado, para 211,8 mil unidades. O mercado como um todo cresceu 5,8% no mesmo intervalo. No grupo das quatro maiores montadoras, a Fiat também caiu, mas apenas 0,9%, e segue como líder no segmento de automóveis e comerciais leves, enquanto a Volkswagen cresceu 8,2% e a Ford, 17,2%.

O presidente da Associação Brasileira dos Concessionários Chevrolet (Abrac), Armando Boscardin, justifica a queda pela falta de produtos, situação que, segundo ele, vai se alterar nos próximos meses.

"Estamos desassociados da questão americana", afirma Boscardin. "A empresa tem gerado resultados para reinvestir no País e o cronograma de lançamentos está mantido."

Antes do anúncio oficial da concordata nos EUA, o presidente da GM do Brasil, Jaime Ardila, informou que a empresa prepara duas novas famílias de produtos para o mercado regional, um deles chamado de Viva, cujo primeiro filhote deve ser lançado em setembro. A outra família, com lançamento para 2012, ainda precisa de aprovação de um plano de investimentos de mais de US$ 500 milhões, que já estaria a caminho.

Fornecedores de autopeças confirmaram que já fizeram as cotações para os novos produtos dessa segunda família, mas, por enquanto, não tiveram retorno da montadora sobre contratos e prazos de produção.