Título: Com R$ 6,08 bi, investimento externo na bolsa bate recorde em maio
Autor: Pereira,Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/06/2009, Economia, p. B1

Aplicações de investidores estrangeiros na BM&FBovespa já totalizam, neste ano, R$ 11,2 bilhões

Renée Pereira

Os investidores estrangeiros voltaram com força à Bolsa de Valores de São Paulo (BM&F Bovespa). Exemplo disso foi o saldo recorde de operações externas em maio, de R$ 6,083 bilhões, resultado de compras de ações no valor de R$ 43,077 bilhões e vendas de R$ 36,994 bilhões. Trata-se do melhor saldo da história da bolsa, que até então era de abril de 2008, de R$ 6,007 bilhões, antes do agravamento da crise mundial. Com o resultado de maio, o investimento estrangeiro na bolsa acumula R$ 11,2 bilhões no ano.

Os números sustentam a valorização de 43,81% da BM&F Bovespa em 2009, bem superior à das bolsas americanas e europeias. Alguns economistas até arriscam dizer que a bolsa voltou a ser a "queridinha" dos estrangeiros, fato que tende a ajudar na recuperação da economia doméstica.

Vários fatores explicam a volta dos investidores ao mercado acionário. Um deles é a elevada liquidez do mercado internacional, em razão das taxas de juros cada vez mais baixas nos países desenvolvidos. Como antes da crise, isso faz com que os investidores corram atrás de aplicações com maior potencial de rentabilidade, destaca o economista José Marcio Camargo, da Opus Gestão de Recursos.

Além disso, os principais bancos centrais já deixaram claro que não vão deixar outras instituições financeiras quebrarem, como ocorreu com o Lehman Brothers. "Esse compromisso reduziu a aversão ao risco. A fuga de recursos para títulos americanos e para o dólar acabou."

Junta-se a esses argumentos o fato de o Brasil estar com uma situação fiscal melhor, comparada com a de outras nações, especialmente as desenvolvidas. "O Brasil vai ficar de pé mais rapidamente do que os outros países. Nossas instituições financeiras estão sólidas, o Banco Central atuou de forma eficiente e ainda manteve as reservas praticamente intactas. Tudo isso conta a favor do País", avalia o economista Ricardo Torres, professor BBS - Brazilian Business School.

Segundo ele, num primeiro momento, a volta dos investidores estrangeiros, que respondem por 37% das operações da bolsa paulista, atingiu apenas as ações chamadas de blue chips, aquelas com maior liquidez na BM&F Bovespa, como Petrobrás e Vale. Em 2009, até ontem, as duas empresas tiveram rentabilidade de 58,29% e 41,50%, respectivamente. Torres afirma, entretanto, que o movimento já alcançou outras grandes empresas do Ibovespa, mas elas têm liquidez inferior à das duas multinacionais.

O apetite dos estrangeiros pelo Brasil deve desengavetar alguns projetos de oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês). Com o agravamento da crise, em setembro do ano passado, várias empresas desistiram de estrear na bolsa e ainda amargaram com a escassez de crédito.

"Acredito que as empresas vão aproveitar esse bom momento para se capitalizar, seja por meio de IPOs ou de captação externa. Mas esse movimento deve ficar mais forte a partir de segundo semestre", afirma o economista-chefe do Banco Schahin, Silvio Campos Neto.

Ele pondera, entretanto, que é cedo para afirmar que o movimento positivo nas bolsas de valores e a volta dos estrangeiros veio para ficar. "Ainda há alguns pontos de preocupação que merecem cautela", destaca o economista da Schahin. Na opinião do presidente da BM&F Bovespa, Edemir Pinto, com mais um mês de resultados positivos será possível afirmar com segurança que o mercado acionário voltou a crescer de forma sustentável. "O Brasil está sendo redescoberto pelos investidores", disse o presidente da bolsa.

Os economistas alertam, no entanto, para o risco de uma nova "bolha" no mercado. "Os indicadores de risco e de percepção dos agentes financeiros sobre a economia melhoraram de forma significativa, mas os dados reais mostram uma recessão. É difícil saber se é otimismo exagerado ou se a economia vai se comportar como os investidores estão sinalizando", explica José Marcio Camargo, da Opus.