Título: Na OEA, EUA refazem laços regionais
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Fonte: O Estado de São Paulo, 05/06/2009, Internacional, p. A21

Para analista, aceitar revogação da suspensão de Cuba era único modo de Washington manter política de distensão

Patrícia Campos Mello, WASHINGTON

Aceitar a resolução que revoga a suspensão de Cuba na Organização dos Estados Americanos (OEA) era a única maneira de os EUA manterem a política de distensão com o governo cubano e reaproximação com a região, acredita Moisés Naím, editor-chefe da revista Foreign Policy e especialista em América Latina.

Os EUA se opunham ao retorno de Cuba à organização sem o cumprimento de condições como abertura democrática e respeito aos direitos humanos. Mas acabaram apoiando uma resolução com exigências vagas na quarta-feira, diante da pressão dos outros 33 integrantes da OEA.

"O mantra de Obama é reajustar as relações dos EUA, com Rússia, Irã, os países muçulmanos - eles não poderiam deixar de dar um sinal forte de reajuste das relações com a América Latina", disse Naím. "Se os EUA não tivessem aceito a resolução, ficariam como o único país a se opor, sozinhos contra todas as nações da América Latina", diz Naím.

Aprovada por consenso na 39ª Assembleia-Geral da OEA, em Honduras, a moção que revogou a suspensão de Cuba da entidade tem apenas dois artigos. O primeiro diz que "fica sem efeito" a resolução de 1962, que expulsou Cuba com o argumento de que o sistema marxista-leninista da ilha e o fato de ela receber armas da URSS poderiam ser uma ameaça à região. O segundo estabelece que, para a ilha voltar à OEA, deve ser aberto um "processo de diálogo" por iniciativa de Havana "e em conformidade com as práticas, os propósitos e princípios da entidade" - a única alusão a condições democráticas que foi incluída, por insistência dos EUA.

Washington não esperava ir tão longe, mas aceitar a resolução foi essencial para manter sua política de distensão com Cuba. Os EUA foram pressionados pelos países da Alba, diante da passividade de países maiores como México e Brasil, que não insistiram no cumprimento da carta democrática, disse Naím. "Foi definitivamente uma vitória dos países da Alba, que não querem uma carta democrática forte na OEA."

Para Maurício Cárdenas, diretor da Iniciativa Latino-Americana do Brookings Institution, tanto os EUA quanto os países da Alba, que estavam em pontos opostos, saíram satisfeitos. Na visão dos EUA, trata-se apenas do início de um processo para Cuba ser aceita. Já a Alba acha que agora basta Cuba querer e está de volta à OEA.