Título: Base joga instalação da CPI da Petrobras para quarta-feira
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/06/2009, Nacional, p. A6

Novo adiamento faz parte de estratégia do Planalto de inviabilizar comissão

Eugênia Lopes

Sem consenso na base aliada para indicar os senadores que vão ocupar a presidência e a relatoria da CPI da Petrobrás, o governo fechou acordo ontem com a oposição e adiou para a próxima quarta-feira, véspera do feriado de Corpus Christi, a instalação da comissão de inquérito. A estratégia do Palácio do Planalto é tentar postergar ao máximo a abertura da CPI, inviabilizando seu funcionamento. Os governistas contam com o calendário deste mês recheado de festas juninas, quando o Congresso fica esvaziado, além do feriado da semana que vem.

O líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL), permanecia irredutível na decisão de vetar o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), para a relatoria da CPI, que vai apurar supostas irregularidades na Petrobrás e na Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Para não dar o cargo a Jucá, Renan trabalhava ontem com a hipótese de o PMDB ficar com a presidência da comissão, que seria entregue ao senador Paulo Duque (PMDB-RJ). Suplente do governador do Rio, Sergio Cabral (PMDB), ele tem perfil mais adequado à presidência que à relatoria, avalia Renan.

Se houver troca de posições no comando da comissão, o bloco governista deverá indicar o relator. Uma das hipóteses é o senador Inácio Arruda (PC do B-CE) - suplente da comissão, que poderá virar titular - ser o escolhido. Na avaliação de um aliado do Planalto, Arruda tem "know how em enterrar CPI".

Durante um ano e meio, Arruda foi o relator da CPI das ONGs, brecando toda e qualquer investigação. Além disso, Renan espera ter o controle sobre ele, uma vez que a ANP é feudo político do PC do B, que poderá perder espaço e cargos com o aprofundamento das investigações.

"A certeza da instalação precipitará o acordo", disse Renan.

O líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), que gostaria de ocupar a presidência da CPI, mas teve o nome vetado por Renan, estava disposto a indicar o senador João Pedro (PT-AM) para o cargo. Mas, se Renan continuar insistindo no veto a Jucá como relator, o PT deverá concordar na troca de posições no comando da comissão de inquérito.

Outro nome que cresceu ontem na bolsa de apostas para assumir um dos postos de comando foi o do senador Valdir Raupp (PMDB-RO). Ele passou a titular da comissão com a ida do senador Leomar Quintanilha (PMDB-TO), em tratamento de saúde, para a suplência. Raupp, no entanto, é considerado "muito independente" de Renan, que quer controle total da CPI.

DILMA

Ontem, na apresentação do balanço do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, defendeu a Petrobrás. "O que a gente não pode é olhar para a Petrobrás como um prefeitura, uma microempresa, ela não é. Tem uma respeitabilidade. Só acho que a CPI tem de se conduzir com seriedade e serenidade porque está em jogo a maior empresa do Brasil", declarou Dilma.

OS NÓS DA COMISSÃO

As desavenças entre o PMDB e o PT nas alianças estaduais para as eleições de 2010

A briga de poder na bancada do PMDB do Senado entre o líder do partido, Renan Calheiros (AL), e o senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado

As divergências entre o PMDB de Renan e o PT do líder Aloizio Mercadante, o que acabou inviabilizando a ida do petista para a CPI

A escolha de Marcelo Crivella (PRB-RJ) como titular da CPI da Petrobrás também desencadeou uma briga de bastidores com o PMDB do governador do Rio, Sérgio Cabral, e do líder Renan

A disputa por cargos na Petrobrás entre o PT e o PMDB

A decisão de a oposição ficar com a relatoria da CPI das ONGs. Os governistas argumentam que, enquanto a relatoria não voltar para as mãos dos aliados, não será dado quórum para a instalação da CPI da Petrobrás