Título: PT busca puxadores de voto para crescer no Congresso
Autor: Domingos, João
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/06/2009, Nacional, p. A6
Partido viu a bancada na Câmara dos Deputados minguar nas eleições de 2006 e quer recuperar força em 2010
João Domingos
O exercício do poder e o aprendizado de que sem alianças no Congresso não é possível governar levaram o PT a mudar a estratégia eleitoral para o ano que vem. O partido não mais fará questão de ser o cabeça de chapa nos Estados onde houver possibilidade de realizar coligações, e, também por conveniência política, até abrirá mão de utilizar os nomes mais fortes para disputar o governo.
A ordem agora é concorrer à Câmara ou ao Senado para puxar votos e eleger uma grande bancada - o que facilita a negociação da aliança com o PMDB. "Tínhamos uma noção disso. Mas, no governo, vimos que, além de disputar a eleição presidencial, temos de fazer bancadas muito fortes para garantir a governabilidade. É importante fechar alianças nos Estados e garantir a eleição do maior número possível de senadores e deputados petistas e de partidos aliados", diz o presidente do PT, Ricardo Berzoini (SP). "Queremos fazer uma bancada bem maior do que as de 2002 e 2006", acrescentou. Desse modo, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, um dos petistas bons de urna - ele costuma ter mais de 500 mil votos - pode ser convencido a não disputar o governo mineiro, e sim uma vaga de deputado.
O governador do Piauí, Wellington Dias, também deverá sair candidato a deputado para aumentar a bancada de petistas piauienses, embora ele já tenha manifestado o desejo de se candidatar a senador. No Rio Grande do Sul, o ex-ministro e ex-governador Olívio Dutra é outro que deverá concorrer a uma vaga para a Câmara. Em São Paulo, o senador Aloizio Mercadante será orientado a disputar a reeleição e esquecer o governo estadual.
Em 2002, ano da primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, até o PT se surpreendeu com o tamanho da bancada eleita - 90, quando todos os cálculos indicavam entre 70 e 75 deputados. Em 2006, enfraquecidos pelo escândalo do mensalão - em que, de acordo com a CPI dos Correios, o PT pagava uma mesada aos parlamentares da base aliada que tinham dívidas de campanha e votavam projetos de interesse do Palácio do Planalto -, os petistas viram a bancada cair para 83 deputados.
Mais experiente, depois de governar por quatro anos e passar pelas turbulências do mensalão, em 2007 o presidente Lula fechou logo uma aliança com 14 partidos para tocar o segundo mandato. Distribuiu ministérios importantes para o PMDB - Saúde, Minas e Energia, Comunicações e Integração Nacional, além da Defesa - , coisa que havia se recusado a fazer no primeiro mandato. Conseguiu uma base ampla na Câmara, com 385 deputados.
MAIS DIFÍCIL
No Senado, porém, a situação sempre foi bem mais difícil. No primeiro mandato, o PT tinha 16 senadores. Como a aliança com partidos fortes, a exemplo do PMDB, não era formal, o governo dependeu sempre de negociações pontuais.
No segundo mandato, Lula fechou o acordo, mas o PT entrou com apenas 12 senadores. E, apesar de a oposição ter somente 28, um a mais que um terço dos 81, o grande número de dissidentes de todos os partidos da base aliada acabou por deixar o governo numa situação delicada.
Foi o Senado que derrubou a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Também foi o Senado que não votou a tempo a medida provisória que criava o Fundo Soberano com R$ 14 bilhões. E é o Senado quem fez a CPI que mais atordoa o governo, a da Petrobrás.
Hoje o presidente do PT contabiliza a possibilidade de fazer alianças em, no mínimo, 13 Estados - Amazonas, Amapá, Goiás, Rio Grande do Norte, Ceará, Pernambuco, Mato Grosso, Tocantins, Maranhão, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Sergipe e Piauí.