Título: Mercado reduz previsão de corte da Selic
Autor: Abreu, Beatriz; Graner, Fabio
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/06/2009, Economia, p. B3

Investidores diminuem aposta em queda de 1 ponto porcentual da taxa na reunião do Copom

Fernando Nakagawa, BRASÍLIA

O Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre foi, na opinião do mercado financeiro, uma boa surpresa. Com queda menor que a esperada, parte dos analistas teve de revisar as apostas para o rumo do juro básico que será anunciado pelo Banco Central hoje à noite.

O sinal de que a reação da atividade pode ser mais rápida diminuiu a corrente dos economistas que preveem corte de 1 ponto porcentual na Selic, atualmente em 10,25% ao ano, e foi consolidada a previsão majoritária de redução de 0,75 ponto, aposta que já prevalecia antes do anúncio do desempenho da economia.

Mesmo com a expectativa de um corte menor da Selic, o País deverá ter hoje, pela primeira vez, uma taxa básica de juro de apenas um dígito.Isso só não ocorrerá se o BC surpreender e optar pela hipótese improvável de manter a Selic ou decidir reduzi-la em apenas 0,25 ponto. O número do PIB mudou também o rumo dos negócios no mercado de juros futuros, onde as taxas subiram rapidamente desde o início do pregão.

Até a segunda-feira, uma parte minoritária dos analistas apostava que o Comitê de Política Monetária (Copom) poderia manter o ritmo do desaperto monetário, com uma nova redução do juro básico de 1 ponto, o que levaria a Selic para 9,25%.

O argumento era que a economia continuava deprimida e que era preciso aliviar os juros para que a atividade pudesse se recuperar mais rapidamente.

O PIB, no entanto, mostrou que as coisas têm andando em passo melhor que o imaginado. "O número mostrou que a economia não está apática. A atividade começa a reagir e o próximo trimestre deve mostrar bons números. Por isso, uma parte dos que esperavam corte de 1 ponto migrou para 0,75 ponto", diz o economista da WinTrade Corretora José Góes.

Sérgio Vale, economista da MB Associados, avalia que o número veio "surpreendentemente positivo" e que os dados sinalizam que "o mercado doméstico está conseguindo sustentar o crescimento, a despeito das fortes quedas em investimento e exportação".Somada à reação interna, analistas ponderaram que os sinais de recuperação das economias centrais - como os EUA e Europa - são observados com cada vez mais frequência. Tudo isso diminuiu o espaço para cortes de juro no Brasil.

Para alguns economistas, se houver surpresa, será um corte mais comedido que o esperado, de 0,50 ponto. "Entraremos em um mar nunca antes navegado. Teremos juro de um dígito e, por isso, não será surpresa se o BC se mostrar mais cauteloso", diz o economista da WinTrade.

Para Góes, é preciso lembrar que a decisão que será anunciada hoje só terá efeito na economia em 2010 porque há atraso nos reflexos gerados pela política monetária, o que reforça o tom cauteloso. "Provavelmente, o BC vai deixar claro no comunicado que esse processo de queda dos juros está chegando ao fim. Existe a chance de a economia se aquecer com mais força e a gente ter problema de inflação no ano que vem", diz.