Título: Base aliada acha álibi para frear CPI
Autor: Samarco, Christiane; Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/06/2009, Nacional, p. A10

Alegação para adiar investigação da Petrobrás é que Heráclito se recusa a votar pedido na comissão das ONGs

Christiane Samarco e Eugênia Lopes, BRASÍLIA

Interessado em adiar ao máximo a abertura da CPI da Petrobrás, o governo usou ontem a disputa pela relatoria de outra comissão parlamentar de inquérito, a CPI das ONGs, para jogar no impasse. A base aliada obstruiu a reunião da CPI das ONGs logo que o presidente da comissão, senador Heráclito Fortes (DEM-PI), se negou a votar a questão de ordem que propunha tirar o líder tucano Arthur Virgílio (AM) do posto de relator. Como PSDB e DEM se recusam a devolver a relatoria à base governista, o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), afirmou que seria "difícil" instalar a CPI da Petrobrás na manhã seguinte (hoje).

Para o líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL), o impasse pode ter vida longa, e, por tabela, a CPI da Petrobrás também tem data cada vez mais indefinida para a instalação. Depois de vetar o arranjo do Planalto para entregar a relatoria da CPI da Petrobrás ao senador Romero Jucá (PMDB-RR), sem consultá-lo previamente, Renan e o líder governista já se reconciliaram.

Agora, os dois entoam o mesmo discurso contra o "golpe" da oposição na CPI das ONGs. "Não tem muito sentido fazer essa investigação política no momento em que o Brasil se prepara para sair da crise e voltar a crescer, e quando o nível de satisfação das pessoas com o governo e com o presidente Lula é recorde", disse Renan ontem, destacando que seu PMDB não tem qualquer demanda junto ao governo. "Estamos satisfeitos com o que temos", afirmou o líder, referindo-se aos cargos do partido.

DESISTÊNCIA

Depois de endurecer o jogo na CPI das ONGs, recusando-se até a considerar uma questão de ordem dos governistas, para trocar o relator, Heráclito Fortes jogou a toalha, mostrando que a oposição não conseguirá instalar hoje a CPI da Petrobrás. No final do dia, um Heráclito bem mais cordial procurou a líder do governo no Congresso, senadora Ideli Salvatti (PT-SC), e o líder petista Aloizio Mercadante (SP), para propor que a sessão deliberativa do Senado fosse realizada na manhã desta quarta-feira, bem no horário em que a CPI da Petrobrás deveria se reunir.

O regimento determina que as comissões não podem funcionar quando o plenário estiver reunido para votar. Exatamente por isso, a naturalidade com que Heráclito perguntou a Ideli e Mercadante se eles concordavam em antecipar a sessão do plenário para esta manhã chegou a suscitar dúvidas sobre a real disposição do DEM e do PSDB em abrir o investigação da Petrobrás.

"Já está todo mundo dizendo que não vai ter quórum", justificou o senador do DEM. Pouco antes, o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), tomara o microfone para dizer que havia sido informado "há 2 segundos", que não haveria CPI da Petrobrás no dia seguinte.

A esperança da oposição em driblar a maioria folgada de oito governistas contra apenas três tucanos e democratas na comissão para investigar a Petrobrás estava centrada em dois senadores: Fernando Collor de Mello (PTB-AL) e Jefferson Praia (PDT-AM). Na semana passada, Collor chegou a anunciar que daria presença na reunião da CPI e Praia também acenou com a possibilidade de comparecer.

Ontem, no entanto, Collor já havia reservado passagem aérea para voltar a Maceió no meio da manhã. Praia, por sua vez, antecipou que não participará da reunião. "Como a questão agora é muito política e eu faço parte da base governista, seria incoerente eu comparecer em meio à queda de braço entre oposição e situação", justificou o parlamentar.

FRASES

Renan Calheiros Líder do PMDB

"Não tem muito sentido fazer essa investigação política no momento em que o Brasil se prepara para sair da crise e voltar a crescer, e quando o nível de satisfação das pessoas com o governo e com o presidente Lula é recorde"

"Estamos satisfeitos com o que temos"