Título: Retração da economia deve pressionar BC na taxa Selic
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/06/2009, Economia, p. B4

A recessão técnica que deve ser anunciada hoje vai reforçar ainda mais a pressão sobre o Comitê de Política Monetária (Copom), que decide amanhã o rumo do juro básico da economia, a taxa Selic. A retração da atividade econômica é o argumento da ala do mercado que prevê corte de 1 ponto porcentual na taxa, atualmente de 10,25% ao ano. O grupo, porém, é minoritário. Prevalece a avaliação de que o Banco Central usará a recente reação da atividade para diminuir o ritmo de flexibilização da política monetária, com redução de 0,75 ponto na Selic. O único consenso está na aposta de que o País terá, pela primeira vez, juro de um dígito a partir de amanhã à noite.

Poucas horas antes do início da reunião de junho do Copom, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deve divulgar a retração da economia entre janeiro e março de 2009. Se confirmada, essa queda trimestral - a segunda seguida - significará a chamada "recessão técnica". Esse será um ingrediente novo na decisão da autoridade monetária, que tem sofrido cada vez mais pressão para que, pelo menos, o tamanho dos cortes do juro seja mantido em um ponto porcentual.

Ontem, por exemplo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse não estar satisfeito com o nível do juro real, atualmente perto de 5% ao ano. A avaliação contrasta com recente afirmação do presidente do BC, Henrique Meirelles, de que a taxa de 5% é algo a se comemorar porque é a menor da história recente do Brasil.

"Não há razão para impor à sociedade os custos de menos atividade e mais gastos com juros em nome do regime de metas porque a inflação está firme abaixo do centro da meta", diz em relatório o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, que aposta na queda da Selic para 9,25% ao ano. Atualmente, o mercado prevê Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 4,33% em 2009, abaixo do centro da meta de 4,5%. O economista argumenta que não há pressão na demanda e a reação econômica que se desenha pode ser lenta.

O time de Lima Gonçalves é, no entanto, minoria. Pela pesquisa Focus, realizada semanalmente pelo BC, a maior parte dos analistas mantém firme a aposta de que a Selic cairá para 9,5%. "A não ser que o PIB seja uma surpresa catastrófica, o Copom já sabe o que vai fazer. O BC sempre diz que faz política monetária olhando para frente, dando menos importância para a visão do retrovisor", diz o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Gomes.

"Os animadores sinais de recuperação da atividade doméstica e a melhora dos mercados internacionais, de forma mais intensa desde a última reunião do Copom, reduzem o senso de urgência para a decisão", diz o economista do Santander, Maurício Molan. Em relatório, ele lembra que o corte dos juros adotado desde o início do ano gera reflexos com defasagem.

Apesar das divergências entre as apostas, não há expectativa de uma taxa Selic estável. Com a queda prevista de pelo menos 0,50 ponto, será a primeira vez desde a adoção da Selic, em 1996, que a taxa anual será de apenas um dígito. Nesse período, no auge do estresse do mercado pela maxidesvalorização do real em 1999, a taxa chegou a 45%.