Título: BC tomou decisão à frente do mercado
Autor: Pereira,Renée
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2009, Economia, p. B4

Carlos Tadeu de Freitas Lopes: ex-diretor do BC e economista-chefe da CNC; Na opinião do economista, BC se antecipou ao olhar para a atividade produtiva fraca e levou em conta a inflação sob controle

Paula Pacheco

Carlos Tadeu de Freitas Lopes, ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), surpreendeu-se com o anúncio da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). "Pela primeira vez tomaram uma decisão à frente do mercado", afirma.

A decisão do Comitê de Política Monetária foi satisfatória?

Foi surpreendente. Pela primeira vez, tomaram uma decisão à frente do mercado. Olhou-se para a atividade produtiva mais do que para qualquer outra coisa. O BC se antecipou e mirou em uma atividade fraca, levando em consideração também o fato de a inflação estar sob controle.

A nota do Copom dá pistas do que está por vir?

Dá sim. Usa-se a palavra "parcimônia" para tirar a expectativa de que as próximas quedas poderão ser neste mesmo nível. Ao mesmo tempo, o comunicado é dúbio, porque não interrompe a trajetória de queda da taxa de juro. O texto deixa claro que há espaço para cortar mais.

Qual é a sua previsão para a Selic daqui até o fim do ano?

O corte de 1 ponto porcentual limitou as quedas futuras. A expectativa é de que a Selic fique entre 9% e 8,75% até o fim do ano, não menos que isso. Ao menos é o que o Copom indica como previsão daqui até o fim do ano.

Que tipo de impacto a decisão do Copom pode ter no setor produtivo, tão afetado pela retração da oferta de crédito?

O setor produtivo talvez seja o que sentirá o maior impacto com a decisão de hoje (ontem). Mas o setor espera mesmo é pelas taxas finais, as ativas, e não a Selic, que é passiva. Tudo vai depender de como os bancos vão se comportar. Para as empresas, o que importa é a redução do spread bancário. A partir dessa decisão, é muito provável que o setor produtivo se encoraje a retomar os planos de investimento, engavetados desde que o cenário econômico ficou nebuloso. É algo de muita importância para a economia brasileira, que certamente foi levado em consideração pelo Copom. A divulgação da queda do PIB do primeiro trimestre no início da semana certamente serviu para uma reflexão antes de a decisão do Copom. Agora vamos ter de esperar para ver o que os bancos vão fazer diante desse corte, se vão cortar os juros também.