Título: China, Rússia e Índia também vão emprestar
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/06/2009, Economia, p. B8

Em iniciativa coordenada, emergentes anunciam medidas para reduzir dependência do dólar

Jamil Chade, GENEBRA

Em uma iniciativa coordenada, os países emergentes anunciam medidas para reduzir sua dependência do dólar e aceleram a compra de títulos do Fundo Monetário Internacional (FMI). A decisão de Brasil, China e Rússia de se tornarem credores do Fundo e promoverem uma pequena revolução no mercado ocorre uma semana antes da primeira cúpula de líderes dos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), em que se discutirá formas de reduzir a supremacia do dólar no cenário internacional.

A exemplo do Brasil, que decidiu ontem comprar US$ 10 bilhões em títulos do FMI, a Rússia também anunciou que poderá comprar outros US$ 10 bilhões. A China já anunciou que compraria US$ 50 bilhões e a Índia ainda estuda o valor.

Apesar dos discursos, a realidade é que essas economias emergentes continuam comprando dólares para fortalecer suas reservas e evitar prejuízos às exportações. Só em maio, os quatro países foram ao mercado adquirir mais de US$ 60 bilhões, metade pela China.

Ainda assim, decidem reforçar o discurso mais crítico em relação ao dólar. Na estratégia de fortalecer o capital do FMI, o primeiro impacto é mudar a relação de poder dentro da instituição e mostrar que os países emergentes estão dispostos a pagar por isso.

Mas, no curto prazo, as medidas têm tido outro impacto. Os russos anunciaram que reduziriam os investimentos em papéis do Tesouro americano. Washington admite que, nos últimos anos, tem sido a compra desses papéis, especialmente pela China e pela Rússia, que tem ajudado a financiar seu déficit fiscal.

Autoridades americanas viajaram para Pequim, no início do mês, para tentar garantir que esse fluxo seja mantido. Mas os chineses estão convencidos de que é hora de debater se o dólar deve ser mantido como praticamente a única moeda de reserva no mundo e quer levar para a cúpula dos Brics a ideia de uma nova moeda global.

O Prêmio Nobel de Economia Joseph Stiglitz liderou há poucas semanas uma iniciativa da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) que chegou a uma sugestão parecida. Sua ideia é de que moedas regionais sejam estabelecidas ou que moedas predominantes em algumas áreas sirvam como novas bases.

Na semana passada, o presidente russo, Dmitry Medvedev, admitiu ser favorável à discussão sobre um mix de moedas para servir como reserva e garantir maior estabilidade.

Para o FMI, porém, a iniciativa dos Brics voltou a dar sentido à entidade, que por anos esteve em uma situação crítica. Não atendia aos interesses dos países emergentes e não era reformada. Com a crise, analistas estimam que o FMI conseguiu se recolocar no centro do debate, ainda que para isso tenha reconhecido que está na hora de promover uma ampla reforma. Há poucos meses, o FMI ainda promoveu seu primeiro empréstimo em décadas para um país rico: a Islândia.