Título: Esta semana, eu emprestei US$ 10 bilhões ao FMI
Autor: Monteiro, Tânia
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/06/2009, Economia, p. B4

Lula diz que o País não fala mais como vira-lata e os números da economia vão ser positivos este ano

Tânia Monteiro

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou um discurso de improviso para comemorar o fato de o governo brasileiro ter emprestado US$ 10 bilhões ao Fundo Monetário Internacional (FMI). Ele lembrou que, quando tomou posse na Presidência, em 2003, era favorável à bandeira "Fora FMI". Mas disse que a situação mudou. "Esta semana, eu emprestei US$ 10 bilhões para eles: pega aí", disse o presidente.

Segundo Lula, o Brasil saiu da fase de cidadão de segunda classe. "Antes, cada vez que o Brasil falava para a Europa ou para os Estados Unidos, falava como se fosse um vira-lata. Isso mudou", disse ele, ao discursar na cerimônia de inauguração do campus da Universidade Federal de Sergipe na cidade de Laranjeiras, perto de Aracaju.

Anunciado na última quarta-feira, o empréstimo ao FMI foi acertado em abril na reunião do G -20, o grupo das 20 maiores economias do mundo. O dinheiro vai compor um conjunto de US$ 500 bilhões - para o qual também contribuirão vários outros países - para tentar reativar o comércio mundial e ajudar as economias com maiores dificuldades. Com o empréstimo, o Brasil, que historicamente sempre tomou dinheiro no FMI, passará à condição de credor da instituição.

Mais tarde, o presidente disse que o empréstimo só foi possível porque a economia está estabilizada e o Brasil tem US$ 207 bilhões de reservas. "As reservas continuam em US$ 207 bilhões (mesmo com o empréstimo), porque o dinheiro é emprestado", esclareceu. "O Brasil ficou mais forte e vivemos uma grande estabilidade econômica", afirmou, após inauguração de obras em Aracaju.

Lula disse que "os números da economia vão ser positivos neste ano", apesar da queda do Produto Interno Bruto (PIB) verificada no último trimestre de 2007 e nos primeiros três meses deste ano. "Já demos uma guinada para cima", disse.

Ele disse que o PIB do primeiro trimestre poderia ter sido melhor e atribuiu a responsabilidade pelo mau desempenho a alguns setores da economia. "Se não houvesse pânico de alguns setores, se a indústria automobilística não tivesse dado férias coletivas, a situação seria outra", declarou o presidente. Ele voltou a dizer que o Brasil vai sair da crise antes do que qualquer outro país.

G-8

Ao contrário do que disse ontem o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, Lula afirmou que, do ponto de vista político, o G -8 (grupo que reúne os sete países mais industrializados e a Rússia) continua a ter importância política. Mas defendeu maior abertura do grupo a outros e países e concordou que, para discutir temas como a crise financeira internacional, por exemplo, o foro mais adequado é o G -20.

"Eu vou à reunião (do G -8) porque acho que o Brasil tem de estar presente e tenho o que dizer lá. Em política, quem fica quieto perde espaço", disse o presidente. O ministro das Relações Exteriores disse em Paris que o G -8 "morreu" e não representa mais nada porque hoje, por qualquer critério, economias como China, Brasil e Índia são importantes.