Título: Ahmadinejad é reeleito por ampla margem; opositor denuncia fraude
Autor: Sant?Anna, Lourival
Fonte: O Estado de São Paulo, 13/06/2009, Internacional, p. A12
Com 77% dos votos apurados, presidente iraniano tinha 65%; Mousavi, com 32%, ameaçava contestar resultado
Lourival Sant?Anna
O presidente do Irã, o conservador Mahmoud Ahmadinejad, foi reeleito ontem com folgada margem sobre seu principal rival, o moderado Mir Hussein Mousavi. Apurados 77% dos votos, Ahmadinejad tinha 65% e Mousavi, 32%, segundo a Comissão Eleitoral, subordinada ao Ministério do Interior. Os 3% dos votos válidos restantes foram repartidos entre o reformista Mehdi Karroubi e o conservador Mohsen Rezai.
Até o início da manhã de hoje em Teerã, madrugada em Brasília, o presidente não se havia pronunciado sobre os resultados. Mas o coordenador de sua campanha, Mojtaba Samareh Hachemi, declarou: "De acordo com os votos contados até agora, a distância entre Ahmadinejad e seus rivais é tão grande que quaisquer dúvidas lançadas sobre essa vitória serão tratadas como piada pelo público."
Antes mesmo de as urnas serem fechadas à meia-noite de ontem (16h30 em Brasília), Mousavi chegou a declarar vitória: "Sou o vencedor definitivo desta eleição presidencial", disse ele, em entrevista coletiva. O ex-primeiro-ministro queixou-se de "irregularidades" na votação, como a falta de tempo para todos votarem e a falta de cédulas em seções eleitorais no norte de Teerã, reduto reformista. Prevista inicialmente para começar às 8 horas e terminar às 18 horas, a votação estendeu-se até a meia-noite em algumas seções eleitorais.
O candidato oposicionista reclamou também do colapso do sistema de envio de mensagens pelo celular, que sua campanha utilizou amplamente, assim como a internet. Um porta-voz do Ministério das Telecomunicações confirmou o problema à Associated Press, e disse que estava sendo investigado. Três páginas na internet usadas pela campanha de Mousavi foram tiradas do ar, sem explicação.
Na madrugada de hoje em Teerã, houve confrontos entre eleitores de Mousavi e a polícia. Para evitar tumultos, o Ministério do Interior proibiu aglomerações até o anúncio do resultado final, previsto para esta manhã. A vitória de Ahmadinejad deve significar a manutenção da posição desafiante do Irã na condução do seu programa nuclear e da hostilidade em relação aos EUA e a Israel. Os comícios de Ahmadinejad foram marcados pelo tradicional slogan "Morte à América", apesar dos movimentos do presidente Barack Obama em direção a negociações com o Irã.
Nos últimos dias, Ahmadinejad radicalizou, declarando guerra ao ex-presidente Ali Akbar Hashemi Rafsanjani, considerado pragmático, que liderou uma aliança de conservadores e reformistas contra sua candidatura. A atitude representa uma ruptura do sistema de distribuição de poder entre as correntes, que vigora desde a Revolução Islâmica de 1979.
Ahmadinejad, de 52 anos, reforçou sua popularidade nos últimos meses, distribuindo ajuda em dinheiro a 5,5 milhões de pobres, e empréstimos para moradias e melhorias em pequenas propriedades rurais. Ele também aumentou os salários dos funcionários públicos e as aposentadorias. A oposição o criticou pelo aumento da inflação, de 6,5%, no início de seu governo, para 14%, nos últimos 12 meses; e do desemprego, de 10,5% para 13%, segundo o índice oficial, ou 17%, de acordo com cálculos extraoficiais. Já o presidente diz ter acelerado o crescimento econômico em seu governo, que atingiu a média de 6,25% nos últimos quatro anos, em comparação com 5,61% no mandato anterior do reformista Mohammad Khatami.
"A decisão forte, revolucionária e clara do povo trará um futuro brilhante para a nação", disse Ahmadinejad, ao votar numa região pobre do sul de Teerã. "Agradeço a todas as pessoas pela presença verde que criou um milagre", disse, por sua vez, Mousavi, de 67 anos, referindo-se à cor de sua campanha. Ele votou ao lado de sua mulher, Zaghra Rahnavard, que atraiu o voto sobretudo de mulheres ansiosas por mais liberdade e igualdade.
O líder espiritual, Ali Khamenei, que apoia tacitamente Ahmadinejad, disse que o voto era um dever religioso. Ele conclamou a população a aceitar o resultado, qualquer que fosse.