Título: Tom conciliatório dos colegas poupa presidente
Autor: Lopes, Eugênia; Samarco, Christiane
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/06/2009, Nacional, p. A4

Comentários de mais de duas horas se seguiram à fala de Sarney, mas palavras de senadores foram "brandas"

Christiane Samarco, BRASÍLIA

Modernização, reformulação da estrutura administrativa do Senado e eleição do diretor-geral pelo plenário. Essas foram as principais cobranças dos senadores, tanto da base aliada quanto da oposição, em reação ao discurso do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP).

Nas mais de duas horas de comentários que se seguiram à fala de cerca de meia hora de Sarney, todos os senadores adotaram tom conciliatório e brando, poupando o presidente do Senado de qualquer constrangimento. Enquanto ouvia os pronunciamentos, Sarney aproveitou para desenhar a si mesmo.

Nem os senadores Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Pedro Simon (PMDB-RS), donos de discursos tradicionalmente duros e indignados, atacaram o presidente. "Ele não disse nada", resumiu Jarbas, que não foi à tribuna. "Temos de pensar em não repetir os erros daqui para frente", disse Simon, em um rápido discurso.

A proposta para que o diretor-geral do Senado passe a ter o nome referendado pelo plenário foi feita pelo líder do PSDB, Arthur Virgílio Neto (AM). Ele propôs e Sarney aceitou que os diretores tenham mandado, a exemplo do que ocorre com dirigentes de agências reguladoras. O ex-diretor-geral ficou no cargo por 15 anos. Mais tarde, o presidente da Casa ponderou que esse tipo de ato tem de ter o aval de toda a Mesa Diretora.

"Não aceitamos que esta Casa naufrague. O Agaciel Maia tem até fã-clube aqui", disse Virgílio, que qualificou como "coisa de menos" as nomeações de três parentes de Sarney - duas sobrinhas e um neto - por atos secretos do Senado revelados pelo Estado.

Um pouco mais incisivo, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), disse haver corrupção no Senado, reclamou da "estrutura ultrapassada" e defendeu uma "grande reforma". "Tem gente demais para trabalho de menos no Senado", resumiu. O tucano rebateu o discurso de Sarney, que se disse "injustiçado" ao lançar mão de sua trajetória ao longo dos últimos 50 anos. "Todos aqui têm passado", reagiu, ao cobrar mudanças para o futuro.

Ao defender a redução do tamanho da estrutura do Senado, o líder do DEM, José Agripino Maia (RN), afirmou que o discurso de Sarney foi "indignado com toda a justeza". "Não se pode medir a justeza de uma vida pública em um detalhe ou outro", disse Agripino.

O líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), foi outro que defendeu reforma profunda na Casa. "Precisamos aproveitar o cenário de crise e dar exemplo de austeridade com cortes nos gastos do Senado", afirmou.

Para o líder do PSB, Renato Casagrande (ES), o Senado também precisa passar por uma reestruturação. "Precisamos de medidas fortes e intensas para enfrentar a crise do Senado", disse o parlamentar, lembrando que, pela manhã, a Comissão de Fiscalização e Controle da Casa aprovou pedido de audiência para que o presidente Sarney explique os atos secretos editados ao longo dos últimos 15 anos com medidas administrativas.

Casagrande considerou um "excesso de cuidado" a decisão de Sarney de esperar a volta do primeiro-secretário, senador Heráclito Fortes (DEM-PI), para divulgar o resultado da investigação feita por comissão que levantou os atos secretos. Fortes está de licença médica até a próxima semana.