Título: Em sigilo, Senado demitiu irmão do seu presidente
Autor: Andrei Netto
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/06/2009, Nacional, p. A4

Ivan exerceu cargo de assistente parlamentar, ganhando R$ 4,8 mil

Leandro Cólon e Rosa Costa

Um irmão do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), foi exonerado, por meio de ato secreto, de um cargo de confiança da Casa. A demissão do escritor e advogado Ivan Sarney (PMDB) saiu só agora no sistema interno do Senado, mas com data de 30 de abril de 2007. Ele se soma a outros seis parentes de Sarney que estão ou passaram discretamente pela folha de pagamento do Senado nos últimos anos, além de dois afilhados políticos.

Vereador de São Luís entre 1992 e 2004, Ivan, de 64 anos, foi acomodado no dia 5 de maio de 2005 na Segunda Secretaria do Senado, então ocupada pelo senador João Alberto (PMDB-MA), hoje vice-governador do Maranhão.

Na época da nomeação, Ivan era suplente de vereador na capital maranhense. Sua nomeação no Senado foi pública, misturada a outros 26 atos, em um mesmo boletim.

No dia 1º de fevereiro de 2007, ele foi transferido para o gabinete do senador Epitácio Cafeteira (PTB-MA).

A exoneração secreta está em um boletim, revelado apenas agora, com dois atos: um anulando a mudança para o gabinete de Cafeteira e o outro informando a saída do irmão do presidente do Senado do quadro de funcionários.

Cada ato é assinado pelo ex-diretor-geral Agaciel Maia. O boletim contém ainda o nome de João Carlos Zoghbi, ex-diretor de Recursos Humanos - citado em outro escândalo recente, de crédito consignado para funcionários do Senado.

No Congresso, Ivan exerceu o cargo de assistente parlamentar, com salário de R$ 4,8 mil. Deixou o Senado para assumir uma vaga de vereador em São Luís. No ano passado, ele tentou, em vão, se reeleger.

PARENTELA

Desde a semana passada, o Estado tem revelado que parentes do presidente do Senado - por meios de atos secretos e públicos - aparecem na lista de servidores de confiança da Casa.

O primeiro nome que apareceu foi o de João Fernando Gonçalves Sarney, neto do senador. Ele trabalhou até outubro no gabinete de Cafeteira.

João é filho de Fernando Sarney. Sua demissão foi escondida em 2008 para evitar a exposição do neto do peemedebista, em meio ao cumprimento da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que proibiu a prática do nepotismo.

Outras duas sobrinhas de Sarney também aparecem em casos semelhantes. Vera Macieira Borges foi nomeada, por meio de ato secreto, para trabalhar na Presidência do Senado em 2003. Ela mora em Campo Grande e trabalharia para o senador Delcidio Amaral (PT-MS), no Estado, a pedido do próprio Sarney.

Também trabalha no Senado Maria do Carmo Macieira. Prima da hoje governadora Roseana Sarney (PMDB-MA), ela foi lotada no gabinete da então senadora por meio de uma decisão sigilosa, em junho de 2005.

Roseana renunciou ao Senado em abril para assumir o governo do Maranhão. No lugar, assumiu o suplente Mauro Fecury (PMDB-MA). Maria do Carmo ainda está na folha de pagamento do gabinete.