Título: Ampliação dos empréstimos já refletiu na alta do PIB
Autor: Modé,Leandro
Fonte: O Estado de São Paulo, 14/06/2009, Economia, p. B4

Entre 2003 e 2008, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro cresceu, em média, 4,12% ao ano. Nos seis anos anteriores (entre 1997 e 2002), a expansão foi de 1,99%. Segundo analistas, uma das principais razões que explicam a diferença de desempenho é o avanço do crédito.

"Historicamente, o Brasil crescia pouco por três razões: sistema tributário anacrônico, desestímulo ao empreendedorismo e crédito escasso e caro", diz o presidente da seguradora de crédito Coface, Fernando Blanco. "Os dois primeiros pontos ainda não foram resolvidos, mas o terceiro foi destravado."

Em termos mundiais, a relação entre crédito e PIB no Brasil ainda é baixa. Segundo dados do FMI, atingiu pouco mais de 50% no fim de 2008, ante, por exemplo, quase 200% nos EUA. O porcentual do FMI é superior ao do Banco Central brasileiro (42,4% também no fim de 2008) por causa de diferenças metodológicas entre as duas instituições. Como o dado do FMI é o mais comum para comparações internacionais, o Estado optou por ele no gráfico que acompanha esta reportagem.

A economista Thaís Marzola Zara, da Rosenberg & Associados, atribui esse "destravamento" citado por Blanco a vários fatores. O primeiro deles é o controle da inflação, a partir do Plano Real, em 1994. O segundo é a queda da taxa básica de juros (Selic), que está hoje no menor nível da história, a 9,25% ao ano. O terceiro ponto destacado por ela é a estabilidade institucional, que permitiu a vinda em peso dos investidores estrangeiros para o País, o que aumentou a oferta de crédito. Por fim, ela e outros analistas citam a legislação que instituiu o crédito consignado.

Apesar da melhora, os especialistas observam que há muitos desafios a superar. O primeiro, de curto prazo, é ampliar a oferta de crédito às empresas. A redução das taxas de juros e o aumento dos prazos de financiamento anunciados pelos bancos estão concentradas nas linhas às pessoas físicas.

No médio e longo prazo, o desafio maior é baixar o spread bancário - diferença entre a taxa de juros que as instituições pagam na captação do dinheiro e a que cobram nos empréstimos. O spread brasileiro, de 28,2 pontos porcentuais ao final de abril, é o mais elevado do mundo. "O spread alto reflete a necessidade de alterações institucionais que deem mais tranquilidade para o ofertador de recursos financeiros", diz o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa.

No governo, a percepção é de que medidas como o cadastro positivo (já aprovado na Câmara) podem mesmo contribuir para a redução do spread. Mas acredita-se, também, que os bancos têm espaço para cortar um pouco de "gordura".