Título: Para estancar crise, Simon pede que Sarney saia da presidência do Senado
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2009, Nacional, p. A4

Colegas dos principais partidos endossaram discurso proferido pelo parlamentar gaúcho na sessão de ontem

Eugênia Lopes, BRASÍLIA

"Tem de sair." A frase, curta e peremptória, fez parte do discurso duro com o qual o senador Pedro Simon (PMDB-RS) reiterou ontem o pedido de afastamento de José Sarney (PMDB-AP) da presidência do Senado. Ele foi seguido por senadores dos principais partidos, que se revezaram na tribuna com o mesmo pedido. Nenhuma liderança da cúpula do PMDB compareceu ao plenário para defender Sarney e ele próprio não foi ao Congresso.

A pressão para que Sarney deixe o cargo aumentou após a revelação feita ontem pelo Estado, de que José Adriano Cordeiro Sarney, neto do senador, é sócio da empresa Sacris Consultoria, Serviços e Participações Ltda, que faz a intermediação de crédito consignado para funcionários do Senado.

Os senadores Demóstenes Torres (DEM-GO), Eduardo Suplicy (PT-SP), Cristovam Buarque (PDT-DF) e Arthur Virgílio (PSDB-AM) aproximam-se de Simon na ideia de que Sarney não tem condições políticas para mandar investigar problemas que envolvem parentes ou aliados políticos. "Não dá, não dá, não dá", pregou Simon.

O mordomo da ex-senadora Roseana Sarney, que ganha pelo menos R$ 12 mil do Senado, o neto e o crédito consignado, e Agaciel Maia, ex-diretor-geral que está por trás de atos secretos e de boa parte dos desmandos administrativos, como o pagamento de hora extra no recesso, são considerados problemas que rondam a presidência Sarney nas três vezes que ocupou o posto, 1995, 2003 e 2009.

"Tem de se afastar da presidência do Senado. Ele deve se afastar para o bem dele e de sua família", defendeu Simon, que foi ministro da Agricultura no governo Sarney, na década de 80. Na avaliação do peemedebista, a situação tende a ficar politicamente "insustentável", e, por isso, seria bom que Sarney deixasse a presidência por decisão própria, antes que "seja obrigado a sair".

"Se eu estivesse no lugar do presidente Sarney, seguiria a recomendação do senador Simon e me afastaria da presidência para dar todas as condições para esclarecer os episódios", disse Suplicy. Ele propôs a eleição imediata de um peemedebista para substituir Sarney.

"A ideia da licença é uma sugestão, não uma pressão", observou Cristovam, ao lembrar que o próprio presidente do Senado reconheceu, no início da semana, que tem estilo mais lento para promover mudanças.

Demóstenes avaliou que a revelação dos negócios do neto de Sarney cria uma "situação altamente duvidosa" para a Casa. "Não podemos desconhecer esse caso", disse. Ele cobrou o afastamento de Sarney do comando das investigações para apurar o envolvimento do ex-diretor-geral Agaciel e do ex-diretor de Recursos Humanos João Carlos Zoghbi na elaboração de atos secretos.

Fora de Brasília, o líder do PSDB, Virgílio, afirmou que a situação de Sarney caminha para a "inviabilidade". "Não sei se é caso de licença ou renúncia. Mas ele está indo mal e precisa responder com urgência. O que se desenha é uma crise institucional." Mais tarde, em nota do partido, Virgílio sugeriu que Sarney se afaste da apuração dos escândalos.

"INJUSTIÇA"

"A Mesa tem sido injustiçada. Estou há 26 anos no Congresso e não vou permitir que o meu nome vá para o lixo", disse o primeiro-secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI). No PMDB, o senador Geraldo Mesquita (AC) declarou que um "golpe" está em curso. "Ninguém aqui pode apontar o dedo para ninguém. Quando se verbaliza que Sarney tem que se afastar, renunciar, estamos transferindo para opinião pública que aqui se trama um golpe." Os senadores Wellington Salgado (PMDB-MG) e Paulo Duque (PMDB-RJ) também defenderam a permanência de Sarney.