Título: Déficit externo cai 53% de janeiro a maio
Autor: Nakagawa, Fernando; Fernandes, Adriana
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/06/2009, Economia, p. B6

Redução da remessa de lucros das empresas explica recuo de US$ 14,09 bi de 2008 para R$ 6,61 bi este ano

Fernando Nakagawa e Adriana Fernandes

Em consequência da crise, que provocou redução das vendas e diminuição dos lucros, as empresas estrangeiras cortaram pela metade a remessa de lucros e dividendos para as sedes no exterior este ano. Dados do Banco Central divulgados ontem revelam que o volume de transferências feitas por essas companhias caiu 49,8% no acumulado de janeiro a maio na comparação com igual período de 2008, passando de US$ 15,6 bilhões para US$ 7,83 bilhões.

Em maio, segundo o BC, as remessas somaram US$ 2,56 bilhões. Embora tenham ficado acima do volume de março (US$ 1,1 bilhão), foram inferiores ao registrado em maio de 2008 (US$ 3,24 bilhões).

A queda das remessas explica praticamente toda a melhora das contas externas brasileiras em 2009. De janeiro a maio, a conta de transações correntes - indicador que registra as operações do comércio, serviços e rendas com o exterior - teve déficit US$ 6,61 bilhões. No mesmo período do ano passado, o saldo negativo foi de US$ 14,09 bilhões - redução de 53%, ou US$ 7,47 bilhões. Só em maio, a conta corrente foi deficitária em US$ 1,74 bilhão.

Quase toda essa queda foi causada pela redução das remessas das multinacionais, que deixaram de enviar US$ 7,76 bilhões a suas matrizes. "Sozinhas, as remessas explicam o ajuste do resultado", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.

O BC anunciou ainda nova previsão para o déficit na conta corrente neste ano, que caiu de US$ 16 bilhões para US$ 15 bilhões. Embora a queda nas remessas tenha influenciado nessa reestimativa, o fato determinante foram as novas projeções que o BC passou a fazer para a balança comercial.

A instituição, que vinha projetando um superávit de US$ 17 bilhões em 2009, aumentou a estimativa para US$ 20 bilhões. A expectativa, porém, não melhorou porque o BC prevê aumento das exportações, mas porque passou a acreditar numa queda ainda maior das importações. Agora, o BC prevê que a compra de mercadorias e serviços somará US$ 138 milhões, ante previsão anterior de US$ 141 bilhões. Mais uma vez, o motivo é a crise, que reduziu a atividade econômica interna e diminuiu a necessidade das empresas de comprar matérias-primas e produtos intermediários.

CÂMBIO

A queda das remessas de lucros já era esperada. Além da menor lucratividade, que reduz o valor em reais a ser enviado, o câmbio atual diminui a vantagem da transação. No ano passado, com o dólar próximo de R$ 1,50, por exemplo, o lucro de uma empresa que somava R$ 1 milhão representava transferência de US$ 660 mil para o exterior. Hoje, se essa companhia enviar o mesmo valor em reais, a operação em dólares será 25% menor, de US$ 500 mil, porque a moeda americana está ao redor de R$ 2.

Montadoras e bancos estão entre os setores que mais deixaram de enviar lucros. Até maio, a indústria automobilística diminuiu as transferências em 71%, para US$ 659 milhões. A redução dos bancos, por sua vez, foi de 45%, para US$ 1,06 bilhão. Juntas, montadoras e bancos deixaram de enviar US$ 2,68 bilhões até maio na comparação com 2008.

Mas o quadro tende a mudar nos próximos meses. André Luiz Sacconato, analista da Tendências Consultoria, diz que a esperada recuperação da atividade deve aumentar o lucro das multinacionais. "Sem dúvida, vai voltar a crescer porque teremos mais lucros e o câmbio já está mais atrativo do que foi há alguns meses, no auge da crise", diz o economista, ao lembrar que multinacionais, apesar da crise, têm mantido os investimentos no Brasil.

Na avaliação da autoridade monetária, as remessas devem somar US$ 17 bilhões até o fim do ano. Portanto, ainda devem ser enviados mais de US$ 9 bilhões pelas multinacionais até dezembro.