Título: Meirelles deve optar pelo PP na disputa pelo governo de Goiás
Autor: Romero, Cristiano
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/06/2009, Política, p. A14

O presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, já decidiu seu futuro político: ele será candidato a governador de Goiás, muito provavelmente pelo Partido Progressista (PP), sigla do atual governador Alcides Rodrigues. Meirelles só deixará o governo em março do ano que vem. Até lá, ele acredita que a economia brasileira já terá voltado a crescer de forma acelerada.

A estratégia de Meirelles, que só deverá se filiar ao PP em setembro, quando expira o prazo para quem vai disputar as eleições de 2010, foi acertada com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Lula, segundo um assessor direto, deu aval para a permanência do presidente do BC no cargo até março, prazo oficial para a desincompatibilização.

Meirelles temia ficar no posto após a filiação, em setembro, alegando que a vida política é incompatível com as funções que ele exerce no Banco Central. O mercado poderia ver na sua candidatura uma inclinação para a "flexibilização" da política monetária, ou seja, da disposição do BC em perseguir a meta de inflação. O presidente Lula, no entanto, não vê impedimento.

Em conversas sobre o assunto no Palácio do Planalto, foi mencionado o caso de Gustavo Franco, que presidiu o BC, no governo Fernando Henrique, mesmo sendo filiado ao PSDB. Citou-se ainda o exemplo de presidentes do Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, como Alan Greenspan, que é filiado ao Partido Republicano e comandou o Fed por quase 18 anos.

Meirelles estava temeroso também com a falta de espaço na disputa política em Goiás. No Estado, já há dois pré-candidatos fortes: o senador Marconi Perillo, do PSDB, e o prefeito de Goiânia, Íris Rezende, do PMDB. Amigos e aliados de Meirelles na política goiana lhe mostraram pesquisas de opinião, indicando que a maioria dos eleitores estaria inclinada a eleger uma "novidade" em Goiás, alguém com uma proposta administrativa inovadora.

Perillo e Rezende não têm o apoio do governador Alcides Rodrigues, que rompeu com o primeiro e é adversário histórico do segundo. Rodrigues vem cortejando Meirelles há meses. Sua crença é que o presidente do BC tem condições de ir para o segundo turno e vencer a eleição.

Meirelles gostaria de fechar um acordo com Íris, criando praticamente uma frente, com apoio federal, estadual e municipal (de Goiânia), para enfrentar o tucano Marconi Perillo. O problema é que o prefeito não abre mão da chance de derrotar Perillo e voltar ao governo estadual, que já comandou duas vezes. Em 1998, Íris perdeu a disputa para Perillo. Um ano depois, seu irmão Otoniel foi preso e algemado diante de câmeras de televisão. Íris atribuiu a "trama" ao então governador Perillo.

"A chance de Íris desistir da candidatura é igual a zero", diz um conhecedor da política goiana. A determinação do prefeito preocupa Meirelles. Ele acha que terá mais chances de vitória na eleição se fizer um acordo com o PMDB de Íris, que já tem o apoio do PT. O presidente Lula está acompanhando o caso de perto e acredita que ainda haverá um acerto entre Alcides, Meirelles, Íris e Rubens Otoni, deputado federal pelo PT.

Além do PP, o PR (ex-PL), o PTB e o PMDB vêm sondando o presidente do BC para filiação. No caso do PMDB, o interesse foi manifestado por lideranças nacionais do partido, como o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, e o ministro da Defesa, Nelson Jobim. Em Goiás, o interesse não é o mesmo por causa da pré-candidatura de Íris. Meirelles não quer correr o risco de se filiar a um partido e depois não ter legenda para se candidatar. Além disso, a filiação ao PP seria uma deferência ao governador Alcides Rodrigues, maior entusiasta da candidatura de Meirelles.

Em contatos recentes com interlocutores políticos de Goiás, o presidente do BC foi aconselhado a mostrar aos conterrâneos que sua candidatura em 2010 é uma possibilidade concreta. Meirelles quer evitar manifestações políticas ostensivas, mas, recentemente, visitou o Estado e deu entrevistas afirmando que voltará a Goiás depois de colocar a economia brasileira crescendo novamente.