Título: Brasil registra no RS primeira morte por gripe suína
Autor: Rollsing , Carlos
Fonte: O Estado de São Paulo, 29/06/2009, Vida, p. A15

A vítima é um caminhoneiro, de 29 anos, que esteve na Argentina; o quadro evoluiu para uma pneumonia

Carlos Rollsing, PORTO ALEGRE

Mais de 50 dias após o País registrar os primeiros casos de gripe suína, o Ministério da Saúde confirmou ontem a primeira morte provocada pela doença. A vítima é um caminhoneiro de 29 anos que estava internado em Passo Fundo, no Rio Grande do Sul.

Vanderlei Vial esteve na Argentina a trabalho por sete dias e retornou ao Brasil no dia 19, já com sintomas da doença, como dores no corpo, febre e tosse. Decidiu procurar o hospital no dia seguinte, quando foi internado e teve diagnóstico confirmado. No dia 23, teve piora do quadro respiratório, que evoluiu para pneumonia, insuficiência respiratória e coma.

Mesmo recebendo os cuidados médicos intensivos, ele não respondeu ao tratamento e morreu na manhã de ontem no Hospital São Vicente de Paula.

"Ele apresentou um agravo maior do que os outros casos, é algo raro. Mas a demora em buscar o atendimento teve a sua influência", afirmou ontem secretário estadual da Saúde do Rio Grande do Sul, Osmar Terra. Não há informações até o momento sobre se Vial apresentava alguma doença que o tornou mais vulnerável à infecção.

Por ter procurado atendimento médico apenas no quinto dia após manifestar os primeiros sintomas da nova gripe, ele não pode ser medicado com o antiviral mais indicado para a doença. Além disso, segundo médicos, ele apresentou uma sensibilidade maior do que a esperada aos efeitos do vírus.

Segundo Terra, o paciente transmitiu a doença para cinco familiares, que tiveram diagnóstico confirmado, estão sendo monitorados pelos médicos e passam bem. Eles moram na cidade de Erechim, vizinha a Passo Fundo. A rota de retorno usada pelo caminhoneiro está sendo investigada pelas autoridades sanitárias.

A notícia do primeiro óbito, segundo o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, não altera em nada a estratégia que vem sendo adotada pelo governo. "O Ministério da Saúde lamenta a morte ocorrida. Trata-se de um momento difícil, mas reitero e reafirmo que isso não muda em nada a nossa estratégia", afirmou ontem. Ele observou que a gripe suína tem características muito semelhantes à gripe sazonal e até agora tem mortalidade baixa, de 0,4%.

De acordo com o Ministério da Saúde, há uma adolescente de 14 anos com diagnóstico confirmado internada em estado grave no Rio Grande do Sul - ela também contraiu a doença na Argentina.

Hoje deverá ser divulgado o resultado do exame feito no engenheiro mecânico norte-americano de 59 anos morto na sexta-feira no Estado. "Exames preliminares da Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul apontaram não se tratar de gripe suína. Teremos a confirmação com novos exames", disse. Aparentemente sua morte está ligada à infecção bacteriana, mas o resultado do exame final deverá ficar pronto hoje.

FRONTEIRA

Em coletiva ontem, o secretário estadual da Saúde, Osmar Terra, afirmou acreditar que o Rio Grande do Sul concentrará, em poucos dias, a maior quantidade proporcional de infectados com a gripe suína. Segundo ele, o fenômeno é explicado por causa das largas fronteiras gaúchas com Argentina e Uruguai, onde o quadro da doença é mais grave, com grande número de infectados.

Terra disse que já sugeriu ao ministro da Saúde que o Brasil passe a tratar a gripe suína como epidemia. O Brasil, contrariando orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), já recomendou que brasileiros evitem viajar nas próximas semanas para Argentina e Chile.

COLABOROU LIGIA FORMENTI

TIRE SUAS DÚVIDAS

As orientações em relação ao controle e diagnóstico da doença mudam após a primeira morte?

Não. As instruções continuam as mesmas. De acordo com o Ministério da Saúde, a doença continua limitada no País, ou seja, somente foram registrados casos de pessoas que viajaram ao exterior ou que tiveram contato próximo com quem viajou

O vírus está mais letal?

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) , o vírus A (H1N1) é "estável" e não mostra sinais de se misturar geneticamente ao vírus da gripe aviária. Isso indica que a baixa letalidade da doença tende a permanecer. No mundo, a letalidade está em 0,42% dos casos. No Brasil, a taxa de letalidade é de 0,16%

Quais são os cuidados básicos para prevenir a transmissão?

A recomendação é lavar bem as mãos com frequência, evitar compartilhar pratos, talheres e alimentos e cobrir a boca e o nariz ao tossir e espirrar, para evitar contato com secreções