Título: Sete prefeitos em cinco anos. E pode ter mais
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/06/2009, Nacional, p. A8

Januária é campeã em cassações

Em nenhum lugar do Brasil a fiscalização do poder público rendeu tantas cassações. Januária, cidade no norte de Minas Gerais, à beira do Rio São Francisco, pode assistir à derrocada de seu sétimo chefe do Executivo em apenas cinco anos.

Maurílio Arruda (PTC) é a bola da vez. Eleito há seis meses, ele caiu em desgraça entre os vereadores da cidade quando disse que governaria por decreto. A Câmara se rebelou. Quando veio a primeira denúncia, dia 15 de junho, os vereadores acolheram e instalaram uma comissão de imediato.

O mentor da denúncia é Fábio Oliva, presidente da Associação dos Amigos de Januária (Asajan), ONG ligada a uma das principais redes de combate à corrupção do Brasil, a Amarribo.

O documento elaborado por Oliva acusa o prefeito de não informar à Câmara a prestação de contas do ano passado. O prazo, de acordo com a Lei Orgânica do Município, era dia 15 de abril. Estourou.

Para complementar,o prefeito não teria respondido a requerimentos de informação da Casa. Um, em especial, buscava saber mais informações sobre os gastos da prefeitura com o carnaval.

Arruda teria vendido ingressos sem numeração para o evento, o que causou indignação entre os moradores, que não puderam fiscalizar a receita da festa para o município. "E esse prefeito era a esperança da cidade", contou Fábio Oliva.

Esperança porque, ao contrário dos anteriores, que tinham pouca ou nenhuma instrução, Arruda é formado em direito no exterior. "Mas os caras não aguentam o nosso tranco, porque a gente faz tudo muito bem documentado", explicou Oliva.

O script das cassações em Januária é sempre o mesmo. Oliva e sua ONG angariam informações para apresentar denúncias embasadas para o Ministério Público, que leva seu trabalho a sério.

Em 2004 caíram por improbidade administrativa Josefino Lopes (PV), João Ferreira Lima (PSDB), Manoel Ferreira Neto (PP) e Valdir Pimenta Ramos (PSDB). Quatro prefeitos em um ano.

Em 2005, João Ferreira Lima voltou ao cargo, mas acabou sucedido por Silvio Aguiar (PMDB) e Antonio Carneiro da Cunha (PSB). Para fechar o ano, Silvio Aguiar retornou à prefeitura para encerrar aquele mandato que começou lá atrás com Josefino Lopes, o primeiro cassado.

"O sistema de administração pública brasileiro é feito para o cara roubar", lamenta Oliva. "E o grande problema disso tudo é a impunidade. Nada do que eles roubaram foi devolvido ao município."

Januária tem 100 mil habitantes, cerca de 50 mil eleitores e muita frustração. A cidade já ficou marcada como terra da corrupção. Oliva defende seu trabalho. "Não é a cidade que é corrupta demais. É a gente que fiscaliza bem demais."

O prefeito Maurílio Arruda não respondeu ao pedido de entrevista. Seu assessor garante que a prestação de contas foi entregue ao Tribunal de Contas do Estado e tem um parecer favorável. Alega que há perseguição política para derrubá-lo do cargo. "É tudo picuinha", afirmou.