Título: Repasse da queda do diesel não chega a 50% do previsto
Autor: Veríssimo, Renata; Nakagawa, Fernando
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2009, Economia, p. B5
Governo previa redução de 9,6% no início do mês, mas o preço caiu apenas 3,94% nos postos de combustíveis
Nicola Pamplona, RIO
Um mês após a redução do preço do diesel nas refinarias, o repasse às bombas ainda não chegou nem perto dos 9,6% estimados pelo governo na época. Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), o preço de venda do combustível nos postos brasileiros caiu apenas 3,94% em junho. O ritmo de queda deve ser menor a partir de hoje, quando entra em vigor a nova mistura com 4% de biodiesel, chamada de B4.
De acordo com o levantamento de preços feito pela agência, o litro do diesel custava na semana passada R$ 2,022, em média, no País. Em São Paulo, o preço médio era de R$ 2,056 por litro, com queda menor do que a média nacional, de 2,79% desde a primeira semana de junho. Os preços do diesel e da gasolina foram reduzidos pela Petrobrás no dia 1º de junho, em 15% e 10%, respectivamente.
Na ocasião, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, calculou um repasse de 9,6% ao preço de bomba do diesel, já descontando o peso dos impostos estaduais e um aumento na Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (Cide). Para a gasolina, não haveria repasse, disse Mantega, uma vez que o governo aumentou a Cide na mesma proporção da queda do preço do combustível nas refinarias. De fato, o preço da gasolina praticamente ficou estável no mês, informa a ANP.
Na semana passada, seis Estados (Bahia, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Norte e Tocantins) e o Distrito Federal tiveram preços médios de diesel abaixo dos R$ 2 por litro. Pelas contas de Mantega, o preço médio nacional deveria atingir os R$ 1,95 por litro após o repasse integral da redução promovida pela Petrobrás.
Logo após a entrevista do ministro, porém, distribuidores e revendedores disseram não concordar com os valores apresentados pelo ministro e calcularam um repasse máximo de 8%. O porcentual, porém, não incluía o aumento da mistura de biodiesel no combustível vendido nos postos. Por ser mais caro do que o derivado de petróleo, o biodiesel pressionará o preço final do combustível.
O setor calcula que a nova mistura pode representar entre R$ 0,01 e R$ 0,02 por litro no preço final. Não é possível, porém, dizer se o aumento da mistura de óleos vegetais provocará aumento nas bombas ou freará o ritmo de queda. No último leilão de biodiesel da ANP, o preço médio do combustível ficou em R$ 2,31 por litro.
Segundo nota divulgada ontem pelo Ministério da Agricultura, a nova mistura vai criar uma demanda adicional de 420 milhões de litros de biodiesel, aumentando o consumo nacional para 1,26 bilhão de litros por ano. O biodiesel a ser utilizado em maior proporção deve ser produzido de oleaginosas como soja, mamona, palma e girassol.
Segundo o ministério, a nova mistura vai permitir substituir o diesel hoje importado pela Petrobrás por uma fonte de energia nacional, limpa e renovável. A nota diz ainda que o Brasil vai reforçar a participação da agroenergia na matriz energética com o acréscimo de 200 milhões de litros na produção de biodiesel (B100), ainda em 2009. "A decisão leva em consideração a capacidade ociosa industrial, menor consumo de diesel projetado para este ano e oportunidades de melhorias sociais."
COLABOROU CÉLIA FROUFE