Título: DEM pede afastamento de Sarney e PT busca solução intermediária
Autor: Samarco, Christiane; Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2009, Nacional, p. A4

Bancada do PT sugerirá entrega da administração do Senado a uma comissão, que atuaria em conjunto com a Mesa

Christiane Samarco, Eugênia Lopes e Denise Madueño, BRASÍLIA

Foi uma terça-feira infernal para o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). No final da manhã, o PSOL protocolou na Mesa Diretora uma representação contra ele e o líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL). Logo depois, os 14 senadores do DEM fecharam posição em favor do afastamento de Sarney até que todas as denúncias contra ele sejam apuradas. Ao final da tarde, com as manifestações do PDT, do PSDB e de três peemedebistas, Sarney contabilizou 36 senadores (44% do total) contra a sua permanência no comando do Senado.

O PMDB divulgou nota dizendo que os senadores, "conscientes de suas responsabilidades", continuarão a apoiar o presidente Sarney e a Mesa Diretora, que estão "implementando grandes mudanças" em nome da "modernização" e da "transparência" do Senado. Mas, antes da solidariedade, o PMDB também disse que "apoia integralmente a apuração de todos os fatos com repercussão jurídica necessária, a fim de preservar o Senado como instituição respeitada pela sociedade". O PMDB levou cinco horas para divulgar a nota, que boa parte da bancada considerou fraca - o nome de Sarney só aparece na décima linha.

Até peemedebistas que assinaram a nota de apoio ao senador sugeriram o afastamento. "Se eu estivesse em uma situação dessas, pelo menos pediria uma licença, ainda que corresse risco de não voltar", disse o senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN). Pedro Simon (RS) e Jarbas Vasconcelos (PE) também se opõem à permanência de Sarney na presidência.

O PSDB sugeriu que Sarney entregasse a presidência a uma comissão de alto nível para conduzir uma investigação idônea.

À tarde, a líder do PT, Ideli Salvatti (SC), desempenhou a função de porta-voz do apoio do Planalto a Sarney. À noite, porém, depois de cerca de duas horas e meia de reunião, a bancada do partido acabou colaborando para enfraquecer Sarney ainda mais, ao fechar com uma proposta semelhante àquela apresentada à tarde pelo PSDB. O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) relatou que a sugestão é para que se crie uma comissão formada por representantes dos partidos e consultores do próprio Senado, com o objetivo de gerir a crise e promover uma reforma estrutural na Casa.

"Esta comissão vai se integrar à Mesa Diretora de forma complementar, porque o colegiado que compõe a Mesa tem mandato", observou. Mercadante e Ideli pretendem se reunir hoje com Sarney para apresentar a proposta.

O senador e ex-presidente da República não teve condições políticas de assumir ontem à tarde a cadeira do comando do plenário da Casa. Familiares como a filha Roseana Sarney (PMDB), governadora do Maranhão, recomendavam cuidado com a saúde. Alguns aliados chegaram a sugerir a renúncia para por um ponto final na crise institucional e no "calvário pessoal". Ao final do dia, no entanto, o presidente apegou-se à nota oficial do PMDB e à solidariedade Planalto e reagiu com um comunicado transmitido por sua assessoria: "A questão do afastamento nem sequer está em análise".

Apesar de Sarney ter encerrado o dia com um "fico", as conversas de bastidores sobre sua sucessão já começaram. No DEM, o nome do senador Marco Maciel (PE) é lembrado como um parlamentar experiente, equilibrado e inatacável do ponto de vista ético. Garibaldi também voltou a ser cogitado como alternativa para a eventual renúncia de Sarney.

Para evitar que o líder do DEM, senador José Agripino (RN), comunicasse pessoalmente a decisão de abandoná-lo, Sarney recusou-se a recebê-lo em seu gabinete. Demonstrou, assim, a revolta do PMDB com seu maior aliado na disputa eleitoral de fevereiro passado.

O único que pôs em palavras a revolta da cúpula do PMDB com a decisão do DEM foi o senador maranhense Lobão Filho (PMDB). "Considero uma traição sem tamanho o DEM ter levado o cargo de diretor-geral do Senado, como um voto de confiança do presidente, para apunhalar Sarney desta forma uma semana depois."