Título: Chávez, o vencedor em Honduras
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2009, Internacional, p. A14

Álvaro Vargas Llosa *, THE NEW YORK TIMES

Nas semanas que antecederam o golpe em Honduras, o presidente Manuel Zelaya, aliado do líder venezuelano, Hugo Chávez, sabia o que estava fazendo. Ao ultrapassar os limites da democracia, tentando forçar uma mudança constitucional para se reeleger, ele armou uma cilada para os militares, que caíram nela, transformando um líder impopular, quase no final de mandato, numa causa célebre internacional.

Embora o golpe tenha tido apoio popular em Honduras, ele permitiu a Chávez, que vem comandando a reação internacional, dar lições de moral. Os líderes golpistas,tentando impedir que Honduras sucumbisse à influência do venezuelano, podem acabar lhe dando mais força na região.

Chávez saiu em apoio de Zelaya. Ameaçou uma ação militar e foi para a Nicarágua, onde uma reunião da Aliança Bolivariana para as Américas (Alba) seria uma boa oportunidade para ele conduzir os esforços em favor de Zelaya.

A Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou o golpe e foi seguida por governos latino-americanos. Seu secretário-geral, José Miguel Insulza, foi para a Nicarágua, onde um encontro regional foi acertado. Chávez enviou um avião para Zelaya ir à reunião e o recebeu no aeroporto.

Na mídia, a imagem recorrente dos últimos dias tem sido a do venezuelano trabalhando em prol da democracia hondurenha. A reação moderada dos EUA e a posição discreta de outros governos perderam-se em meio à campanha de Chávez.

Não era isso que o establishment de Honduras pretendia ao depor Zelaya. E para quem acompanhou a carreira do presidente deposto, essa é uma reviravolta quase surreal. Membro da oligarquia agrária, Zelaya assumiu a presidência em 2006, como líder do Partido Liberal, de centro-direita. Dedicou-se por décadas a administrar a fortuna da família e apoiou o Acordo de Livre Comércio da América Central com os EUA. Candidatou-se à presidência com uma plataforma conservadora e só na metade do mandato, tornou-se admirador de Chávez.

Zelaya firmou um acordo com a Venezuela, obtendo subsídios para o petróleo; e em 2008 pôs Honduras na Alba. Com a aproximação das eleições de novembro, ele decidiu fazer o referendo sobre a reeleição. Uma medida que viola cláusulas constitucionais que proíbem o presidente de concorrer a mais de um mandato e estabelecem procedimentos para emendas.

A Corte Eleitoral, a Suprema Corte, o procurador-geral, o Congresso e membros de seu partido declararam ilegais as intenções de Zelaya. E no domingo, os militares decidiram intervir.

A solução ideal seria Zelaya retornar ao poder e deixar o cargo em 2010. Contudo, não dá para saber se os líderes do golpe voltariam atrás e é improvável que Zelaya abandone seus planos de reeleição. Tudo isso garante um período de governo ilegítimo em Honduras e uma constante exploração da situação por Chávez.

* Álvaro Vargas Llosa dirige o Center on Global Prosperity, do Independent Institute