Título: ONU pede restituição imediata de deposto
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/07/2009, Internacional, p. A15

Presidente hondurenho recebe apoio unânime na Assembleia-Geral das Nações Unidas; OEA estuda suspender Tegucigalpa até reversão do golpe

Patrícia Campos Mello, WASHINGTON

A Assembleia-Geral da ONU adotou ontem uma resolução pedindo a restituição "imediata e incondicional" da presidência de Honduras a Manuel Zelaya. Por votação unânime, a ONU exortou seus 192 integrantes a não reconhecer nenhum presidente de Honduras, a não ser Zelaya, que é "o legítimo" governante. Em Nova York, Zelaya agradeceu à assembleia pela resolução "histórica" que expressa "a indignação das pessoas" no mundo.

Zelaya afirmou ter o apoio de "toda a comunidade internacional" e disse esperar que os militares mudem de posição quando ele voltar ao país, passando a apoiá-lo. Em entrevista depois da reunião na ONU, o hondurenho garantiu que não pretende se recandidatar à presidência. "Voltarei à vida civil e à minha família, não à política (após o fim do mandato)", disse Zelaya.

Zelaya participou ontem à noite da reunião extraordinária da Assembleia-Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington.

O chanceler argentino, Jorge Taiana, que presidiu a reunião, levantou a possibilidade de suspender Honduras da OEA até que Zelaya seja restituído ao poder. "Se não tivermos êxito com as gestões diplomáticas pode ser necessário apelar para o artigo 21 da Carta Democrática e pedir a suspensão da participação de Honduras na OEA", disse Taiana. Essa seria a medida mais drástica adotada pela OEA desde a suspensão de Cuba há quatro décadas.

Em conversas privadas, os EUA haviam manifestado sua insatisfação com a tentativa de Zelaya de se perpetuar no poder, ao propor um plebiscito permitindo a reeleição. Mas o presidente Barack Obama fez uma condenação enérgica ao golpe na segunda-feira, qualificando-o de "ilegal".

Ontem, o presidente de facto, Roberto Micheletti, desautorizou os embaixadores de Honduras na ONU e na OEA, Jorge Arturo Reina e Carlos Sosa, e anunciou sua destituição.

O secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, concordou em acompanhar Zelaya de volta a Honduras. Mas Micheletti disse que Zelaya será preso se voltar a Honduras, já que "os tribunais hondurenhos têm ordens de prisão" contra ele.

"Vou acalmar as pessoas. Vou tentar iniciar um diálogo", disse Zelaya na ONU. "Quando eu estiver de volta, as pessoas dirão ?comandante, estamos a às suas ordens?, e o Exército terá de se conformar. Não existe outra possibilidade."

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos solicitou uma visita a Honduras para apurar acusações de prisões arbitrárias. Segundo o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, Zelaya deve se reunir com funcionários do Departamento de Estado. O Banco Mundial suspendeu empréstimos a Honduras até que se restabeleça a ordem democrática.

MEDIDAS DE PRESSÃO

Alba - Países da Alternativa Bolivariana para as Américas retiraram seus embaixadores do país e dizem que não reconhecerão os embaixadores designados pelo governo de facto hondurenho

Venezuela - Chávez disse que convocará uma cúpula do Petrocaribe para suspender os envios de petróleo para o país e mobilizou as tropas para defender Manuel Zelaya

ONU - A Assembleia Geral pediu a restituição "imediata e incondicional" de Zelaya e determinou que seus 192 países-membros não devem reconhecer o novo governo

OEA - A participação de Honduras na organização pode ser suspensa

Banco Mundial - O Banco Mundial suspendeu a entrega de US$ 270 milhões para Honduras, até que se esclareça a situação política no país