Título: Morre o médico José Aristodemo Pinotti
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Fonte: O Estado de São Paulo, 02/07/2009, Vida&, p. A24

Deputado federal licenciado, ele ocupava atualmente o cargo de secretário especial da Mulher na Prefeitura de SP

Após lutar durante quase um ano contra um câncer de pulmão, o ginecologista e obstetra José Aristodemo Pinotti morreu na madrugada de ontem, aos 74 anos, no Hospital Sírio-Libanês, na região central da capital paulista.

Deputado federal pelo DEM, atualmente afastado em razão do cargo de secretário especial da Mulher, recém assumido na Prefeitura de São Paulo, Pinotti ocupou, não sem disputas e polêmicas, cinco outros importantes postos públicos ao longo da vida, o de reitor da Universidade Estadual de Campinas (1982, ano de entrada), secretário de Estado da Educação de São Paulo (1986), secretário de Estado da Saúde (1987), secretário municipal da Educação (2005) e secretário de Ensino Superior do Estado de São Paulo (2007), além de uma rápida passagem pela secretaria municipal da Saúde na capital, em 2000, durante o mandato relâmpago de Régis de Oliveira.

Na carreira acadêmica, o médico foi professor titular na USP e na Unicamp e assinou 671 artigos científicos, além de ter publicado ou organizado 49 livros. Era um nome conhecido mundialmente na área de saúde da mulher, principalmente no combate ao câncer de mama e do de colo de útero, e defensor da ampliação do direito ao aborto. Em Campinas, o especialista implantou um dos primeiros programas preventivos contra a última doença e ajudou a criar o Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (CAISM), considerado referência no continente pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Parentes, amigos, políticos e pacientes lotaram o auditório da Faculdade de Medicina da USP, na região oeste, para acompanhar o velório. "Ele me curou de um câncer", dizia, abanando para o carro funerário, Maria Guerra, de 71 anos, que afirmou ter sido paciente de Pinotti.

Pouco antes de o corpo seguir para o enterro, no cemitério da Consolação, o governador José Serra (PSDB) e o prefeito Gilberto Kassab (DEM) estiveram na cerimônia. Outros três ex-governadores foram ao velório - Orestes Quércia (PMDB), Luiz Antonio Fleury (PTB) e Paulo Maluf (PP) -, além do presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, e de Michel Temer, presidente da Câmara dos Deputados . "É um homem cuja vida foi para o bem, tanto na esfera privada, familiar, para amigos, como na esfera pública, como médico. Ele teve um papel muito importante para a saúde da mulher no Brasil. É uma perda muito grande", afirmou o governador Serra.

O prefeito Gilberto Kassab afirmou que Pinotti foi "um extraordinário médico, uma figura humana exemplar". Em nota, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse que o especialista "era referência obrigatória nas discussões sobre os destinos da saúde (...), sobretudo em relação às mulheres, das quais defendeu o direito de decidir sobre os mais diversos temas ligados à sua vida sexual".

No ano passado, Pinotti defendeu o direito das mulheres a interromper a gravidez de anencéfalos (fetos sem cérebro) em audiência pública no STF. Outras de suas bandeiras, nos últimos anos, eram o fim de áreas de atendimento para planos de saúde em hospitais públicos e o ressarcimento ao SUS pelo atendimento de convênios.

O médico, no entanto, nas recentes passagens por cargos na área da educação, enfrentou resistência. Em 2007, a criação da Secretaria de Ensino Superior foi um dos motivos usados por professores, funcionários e alunos da USP para fazer uma greve. Eles entendiam que a secretaria ameaçava a autonomia universitária. Pinotti também enfrentou uma greve de professores quando cuidou da área na capital e tentou implantar um programa de ensino em tempo integral, mas sem a preparação da rede, segundo a categoria.

Outra polêmica foi uma ideia mais antiga, e que gerou divergências por anos com a área estadual de saúde, a de que o atual Instituto do Câncer do Estado , inaugurado em 2008, fosse o Instituto da Mulher, projeto lançado em sua gestão na saúde durante o governo Orestes Quércia. A obra acabou ficando parada por mais de uma década. "Ele era corajoso e não ligava para quem vinha reclamar", disse o amigo José Pareja, cirurgião da Unicamp.FABIANE LEITE E RICARDO BRANDT

REPERCUSSÃO

Orestes Quércia Ex-governador de SP

"A saúde pública do Brasil, e em especial as mulheres, devem muito ao doutor Pinotti""

Michel Temer Presidente da Câmara

""O Pinotti era um homem de plenário. Em todo momento ele estava intervindo nas discussões e fazendo suas intervenções muita adequadamente"

Paulo Skaf Presidente da Fiesp

"Foi educador, médico e homem público exemplar"

Paulo Renato Souza Secretário da Educação do Estado de São Paulo

"Além do excelente profissional, Pinotti foi um pai e um avô exemplar. Ele nunca se abateu, mesmo diante das maiores dificuldades. Era um grande lutador"