Título: Constante, mas lenta
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Fonte: O Estado de São Paulo, 06/07/2009, Notas & Informações, p. A3

Em maio, pelo quinto mês consecutivo, a produção industrial brasileira registrou crescimento em relação ao mês anterior. Desta vez, o aumento foi de 1,3%, já descontadas as influências sazonais. Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que pesquisa mensalmente a produção física da indústria brasileira, esse resultado "reforça os sinais de recuperação da atividade fabril".

De fato, depois de atingir seu nível mais baixo na passagem de 2008 para 2009, a produção industrial vem crescendo de maneira contínua e, nos cinco primeiros meses do ano, acumulou uma expansão de 7,8%. Mas a queda no fim do ano passado foi tão forte que, apesar dessa notável expansão ao longo de 2009, estamos onde estávamos há três anos. A indústria ainda registra um nível de produção parecido com o de junho de 2006.

Na comparação com os resultados de 2008, os deste ano são muito fracos. A produção de maio de 2009 foi 11,3% menor do que a de maio de 2008. É a sétima queda consecutiva registrada pela produção industrial mensal medida pelo IBGE na comparação com igual mês do ano anterior. No acumulado dos cinco primeiros meses, o resultado de 2009 foi 13,9% menor do que o de 2008. Nos 12 meses encerrados em maio deste ano, a queda foi de 5,1% em relação aos 12 meses terminados em maio de 2008.

Em relação a abril, todas as categorias de uso (bens de capital, bens intermediários, bens de consumo duráveis e bens de consumo semiduráveis e não-duráveis) apresentaram crescimento em maio. Mas o aumento da produção da indústria em geral foi fortemente impulsionado pelo desempenho dos bens de consumo duráveis.

A produção desses bens aumentou 3,8% em maio, na comparação com abril, graças, sobretudo, aos estímulos tributários concedidos pelo governo - para os automóveis e para os eletrodomésticos da linha branca - e à maior oferta de crédito, cujo custo, ademais, vem declinando, em razão do alívio gradual da política monetária, e estimulando o consumidor a utilizá-lo mais intensamente.

Pelo menos no caso de bens duráveis, os bons resultados devem se repetir em junho. Alguns dados de vendas desses bens no mês passado são surpreendentes. De acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), em junho foram vendidos 300,2 mil veículos (automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus), um volume 17% maior do que o registrado em junho de 2008. É o novo recorde mensal do setor.

No semestre, as vendas de automóveis e veículos comerciais leves totalizaram 1.393.624 unidades, 4% mais do que nos seis primeiros meses de 2008. A Fenabrave prevê que, em 2009, as vendas nesse segmento totalizarão 2,78 milhões de unidades, 4,2% mais do que o total vendido no ano passado, que até agora é o recorde.

Para um ano que começou com previsões sombrias para todos os setores, será um ótimo resultado. A indústria automobilística já considera que conseguiu salvar o ano. Algumas empresas preparam jornadas extraordinárias e contratação de trabalhadores.

No caso dos bens de capital, porém, os resultados são menos brilhantes. É verdade que a produção parou de cair (em maio, aumentou 0,7% na comparação com abril), o que indica o início da recuperação, que ainda é lenta. Na comparação com maio de 2008, a redução é de 22,8%.

Normalmente, a indústria de bens de capital é a que mais demora para se recuperar da crise. Também desta vez sua recuperação deverá ser lenta, pois a indústria em geral ainda opera com grande capacidade ociosa, de modo que tem condições de atender ao aumento da demanda sem necessariamente investir na expansão da capacidade de produção.

As condições favoráveis para o crescimento da demanda de bens duráveis devem ser mantidas nos próximos meses - a redução do IPI foi prorrogada e não há sinais que indiquem a necessidade de aperto da política monetária -, impulsionando a atividade industrial. Mas a recuperação, embora constante, deverá continuar lenta e o crescimento ao longo de 2009 provavelmente não será suficiente para repor a queda dos últimos meses de 2008.