Título: Zelaya é impedido de pousar em Tegucigalpa e vai para a Nicarágua
Autor: Chacra, Gustavo
Fonte: O Estado de São Paulo, 08/07/2009, Internacional, p. A10
Soldados bloqueiam pista de aeroporto e obrigam avião com presidente deposto a desviar para país vizinho
Gustavo Chacra, TEGUCIGALPA
O avião que levava o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, de volta a seu país desviou ontem e pousou na Nicarágua depois de não receber autorização para aterrissar no aeroporto de Tegucigalpa. Mas Zelaya afirmou que tentará novamente hoje ou amanhã voltar a Honduras.
Ele declarou que os militares haviam colocado veículos na pista e ameaçado com uma interceptação aérea. "Se eu tivesse um paraquedas imediatamente me lançaria deste avião", disse Zelaya após sua fracassada tentativa de retorno.
Ao aproximar-se do espaço aéreo hondurenho, Zelaya havia exigido lealdade dos militares e ordenado que fosse permitido o pouso de seu avião. "Sou o comandante-geral da Forças Armadas, eleito pelo povo, e peço ao Estado-Maior das Forças Armadas que cumpra a ordem de abrir o aeroporto", afirmou, numa declaração divulgada pela TV venezuelana Telesur e retransmitida por um carro de som perto do aeroporto.
O presidente da Assembleia-Geral da ONU, Miguel D?Escoto, e alguns jornalistas acompanhavam Zelaya em uma aeronave fornecida pela Venezuela.
Na escala que fez em Manágua Zelaya encontrou-se brevemente com o presidente nicaraguense, Daniel Ortega, e seguiu para El Salvador para se reunir com os presidentes do Equador, Rafael Correa, do Paraguai, Fernando Lugo, e da Argentina, Cristina Kirchner, além do secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza.
Ao longo do voo para Honduras, Zelaya conversava com apresentadores da Telesur, ligada ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Dizia que sua presença em Honduras ajudaria a conter a violência e esperava que as Forças Armadas entendessem que ele defende o povo e o presidente de facto, Roberto Micheletti, é golpista.
Inicialmente, circularam informações de que seu avião teria ido diretamente para El Salvador. Depois, confirmou-se que o presidente deposto partira de Washington e rumava diretamente para Honduras.
Em Tegucigalpa, o governo de Micheletti convocou entrevista coletiva e acusou a Nicarágua mobilizar tropas na fronteira entre os dois países para um ataque. Em seu pronunciamento, Micheletti acusou países vizinhos de iniciar "uma invasão psicológica" contra Honduras, usando redes de TV, em alusão à Telesur. No início da noite, perto da hora prevista para a possível aterrissagem do avião de Zelaya, todos os noticiários de TV foram tirados do ar e substituídos pelo pronunciamento de Micheletti.
O presidente nicaraguense desmentiu a acusação de que estava mobilizando forças para um ataque. "Isso é totalmente falso. Juro por Deus que a Nicarágua não está mobilizando tropas para Honduras", afirmou a uma rádio. Ortega é um dos principais aliados de Zelaya.
Ao mesmo tempo, membros de seu governo disseram que seguidores do governo Micheletti poderiam cometer atentados para incriminar Nicarágua e Venezuela.
Em Honduras, a Igreja Católica posicionou-se ao lado do governo de facto, com bispos do país reforçando a declaração feita no sábado pelo cardeal Oscar Rodríguez Maradiaga, de que o retorno de Zelaya provocaria um "banho de sangue".
CRISE
Zelaya foi deposto no dia 28 por militares e obrigado a embarcar em um avião para a Costa Rica. O governo de facto, com apoio do Congresso, das Forças Armadas e da Suprema Corte, acusa Zelaya de desrespeitar a Constituição com o objetivo de permanecer no poder. Não existe saída constitucional do presidente, como o impeachment, em Honduras. A ação do governo de facto foi condenada pela comunidade internacional.
CRONOLOGIA
2005 - Manuel Zelaya vence a eleição presidencial
2009 - Às vésperas do fim de seu mandato, Zelaya convoca uma consulta popular para alterar a Constituição
23 de junho - Parlamento rejeita consulta. Suprema Corte e Exército declaram votação ilegal
28 de junho - Presidente é derrubado e enviado para Costa Rica
29 de junho - Confrontos são registrados em Tegucigalpa
1.º de julho - OEA dá 72 horas para que o governo de facto de Honduras restitua Zelaya
3 de julho - Secretário-geral da OEA vai a Honduras, ameaça governo de facto com suspensão da entidade. Governo rejeita restituir presidência a Zelaya
Ontem - OEA aprova suspensão de Honduras da organização e presidente deposto tenta voltar a Tegucigalpa