Título: Obter divisas é maior dificuldade das empresas
Autor: Costas,Ruth
Fonte: O Estado de São Paulo, 05/07/2009, Internacional, p. A16

Esvaziamento do cofre de Chávez também preocupa; para associação, problema é temporário

Os brasileiros que apostaram na Venezuela também estão sentindo os efeitos da queda do preço do petróleo. Por enquanto, o maior problema são as dificuldades na liberação de dólares para pagar pelos produtos importados do Brasil. Isso afeta não só os exportadores brasileiros, mas também empresas que investiram na Venezuela e precisam importar matéria-prima e maquinário do Brasil ou de outros países.

Segundo Fernando Portela, diretor da Câmara de Comércio e Indústria Venezuelano-Brasileira (Cavenbra), as dificuldades só não se estendem para os setores prioritários para o governo, como o alimentício. Há o caso de uma grande empresa brasileira que está há mais de um ano sem receber.

Outro problema é o corte nos gastos do governo e das estatais. Só o orçamento da petrolífera PDVSA foi reduzido em 65%. Como muitas empresas brasileiras estão entrando na Venezuela como parceiras do governo, analistas dizem que elas podem receber com atraso. A Braskem, por exemplo, já admite a possibilidade de rever o cronograma para a entrada em operação de sua fábrica Poliamerica porque o projeto (de US$ 3 bilhões) depende de investimentos da PDVSA para garantir o suprimento de matéria-prima.

A Venezuela vinha crescendo, em média, 10% ao ano até o segundo semestre de 2008, quando a crise financeira acabou com a bonança petrolífera. O economista Maxim Ross, que tem uma consultoria em Caracas, calcula que este ano o crescimento seja de apenas 1%.

A apreensão é grande em relação ao patamar em que o petróleo se estabilizará. Caracas trabalha com dois cenários: um de arrocho, com o preço do petróleo entre US$ 30 e US$ 50, e outro, que lhe traria algum alívio, com os preços flutuando entre US$ 50 e US$ 70.

Segundo previsões da Cavenbra, as exportações brasileiras para a Venezuela podem cair 10% por causa da crise, passando dos atuais US$ 5,1 bilhões para US$ 4,5 bilhões. "No entanto, isso deve ser recuperado nos próximos anos", disse Portela. "O Brasil está construindo uma parceria de médio e longo prazo com Caracas e a instalação de indústrias com capital brasileiro no país impulsionará ainda mais o comércio quando o cenário econômico mundial melhorar."