Título: Só casos graves de gripe suína vão passar por exame
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Fonte: O Estado de São Paulo, 04/07/2009, Vida, p. A17

Governo anuncia nova mudança no protocolo; paciente terá de apresentar, por exemplo, problemas pulmonares

Vannildo Mendes e Fabiane Leite

Somente pacientes graves ou que possam evoluir com gravidade deverão buscar ajuda nos 68 hospitais de referência para a doença e fazer os testes de diagnóstico para a gripe suína, anunciou ontem o Ministério da Saúde, em mais uma mudança nos protocolos sobre o novo vírus A(H1N1). Também serão testadas amostras em casos de surtos localizados.

Aqueles com suspeita da doença, mas apenas sintomas leves, deverão buscar o serviço de saúde mais próximo, como posto de saúde ou pronto-socorro, e não serão testados, explicou o ministro da Saúde, José Gomes Temporão.

A ideia é reservar recursos aos que mais precisam. Nos casos leves, como toda a gripe comum, não é preciso tratamento complexo, só aliviar sintomas.

Para ser considerado caso grave, o paciente precisa apresentar, por exemplo, comprometimento pulmonar. A pasta havia anunciado, em 26 de junho, que o tratamento com oseltamivir seria limitado a casos graves e pessoas com suspeita da doença da mesma instituição de um paciente com infecção confirmada laboratorialmente automaticamente seriam consideradas casos confirmados.

Segundo o ministro, nos casos brandos, o médico responsável pelo atendimento e triagem dará todas as instruções para o tratamento domiciliar, incluindo o isolamento do infectado.

O ministro garantiu que a estratégia adotada no País vem dando certo. "Os fatos demonstram que a estratégia de enfrentamento da doença no Brasil é um estrondoso sucesso", disse.

Números do próprio ministério mostram que três semanas atrás, 6% das vítimas da doença haviam sido infectadas no País. Nesta semana, subiu para 30% a taxa de pessoas que contraíram a doença dentro do País. Apesar do aumento, não há evidência de transmissão continuada (surto ou epidemia). Ontem, foram confirmados 19 casos novos de gripe suína no País, totalizando 756 ocorrências, com uma morte.

A infectologista Nancy Bellei, da Universidade Federal de São Paulo, considera que o fim da testagem para todos as ocorrências suspeitas poderá levar a um descontrole sobre o avanço dos casos. O ministério afirma que, sem os exames, o acompanhamento caberá à rede de unidades sentinela, serviços de saúde de todo o País que mesmo antes da nova gripe já tinham a obrigação de coletar semanalmente secreções de pacientes com sintomas de gripe para verificar a evolução do vírus causador da doença. "Mas a rede sentinela não funciona adequadamente", disse a especialista. Estudo da Secretaria da Saúde de SP mostrou que 13 Estados atingiram 80% ou mais das metas de participação em 2008.

O ministério informou que, além da rede sentinela, o surgimento de surtos comunitários alertará sobre mudanças no curso da doença. O diagnóstico sem teste, por vínculo epidemiológico, destacou, "é rotina na epidemiologia de doenças infecto-contagiosas (...) e já é feito pelos EUA, Canadá, Chile, México, Reino Unido e Espanha".