Título: Lula e Sarkozy afinam discursos
Autor: Andrei Netto
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2009, Economia, p. B9

No G-8, líderes insistirão na reforma do FMI e de regras financeiras

Andrei Netto

Como fizeram na véspera da Cúpula do G-20, em Londres, em abril, os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da França, Nicolas Sarkozy, têm encontro hoje para afinar os discursos antes da reunião do G-8, grupo dos sete países mais ricos mais a Rússia. A reunião será no Palácio do Eliseu, em Paris, e mais uma vez terá como tema central a reforma do sistema financeiro. A novidade: ambos acreditam na decadência do "grupo dos ricos".

A reunião foi marcada quando os dois presidentes estiveram na Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra, há 15 dias, e estava prevista para as 12 horas de hoje, mas foi antecipada a pedido da França.

Lula e Sarkozy se encontram pela segunda vez neste ano em Paris. Como em abril, os dois chefes de Estado discutirão, entre outros, temas como a reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI), de interesse do Brasil, e o combate aos paraísos fiscais, foco da França. Também devem pedir, na Cúpula do G-8, em Aquila, na Itália, a implementação das medidas definidas no encontro de abril, em Londres.

Outro ponto de acordo entre as duas delegações diz respeito à perda de relevância do grupo dos mais ricos. Na reunião de Aquila, os países emergentes - Brasil, Índia, China, África do Sul, México e Egito - serão convidados apenas para o segundo dia de debates. "Há uma concordância dos líderes de que o G-8 não é mais o fórum ideal para discutir temas econômicos e financeiros", reafirmou ontem o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim.

Embora Sarkozy não tenha demonstrado publicamente seu descontentamento com as limitações do G-8, sua ministra da Economia, Christine Lagarde, fez críticas diretas ao grupo no domingo, em Aix-en-Provence. "O G-8 deve imperativamente ser modificado e ampliado para se adaptar à realidade dos tempos", afirmou. "O G-8 é uma instituição muito mais antiga e sem dúvida muito menos pertinente, dada a sua composição e a evolução do mundo."

Para Christine Lagarde, países emergentes devem ser protagonistas das decisões internacionais e não convidados periféricos do G-8 - grupo formado por Estados Unidos, Canadá, Japão, Alemanha, França, Reino Unido e Itália, além da Rússia.

Há cerca de um mês, Amorim vem declarando "a morte" do grupo dos ricos, posição seguida por outras autoridades do governo. Lula, um pouco mais comedido, fala em "enfraquecimento". A Casa Branca e a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, manifestaram posições semelhantes nos últimos dias.

Marco Aurélio Garcia, assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais e um dos membros da comitiva que está em Paris, antecipa que o Brasil voltará ao assunto na reunião de Aquila, na qual o governo brasileiro manterá o discurso que faz desde o aprofundamento da crise, em setembro de 2008. "O Brasil vai fazer o que tem feito ultimamente: subir o tom progressivamente em alguns temas", disse ele.