Título: Gripe faz Argentina fechar teatro e cassino
Autor: Palácios, Ariel
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/07/2009, Vida&, p. A16

Empresários querem evitar aglomerações após avanço dos casos; no Brasil, ministro diz que a gripe comum é problema pior do que a suína

Ariel Palácios, Elder Ogliari, Fabiane Leite e Jamil Chade

A Associação Argentina de Empresários Teatrais anunciou ontem o fechamento, por dez dias, de todos os teatros privados no país. Segundo Carlos Rottemberg, presidente da entidade, a decisão foi tomada para prevenir a aglomeração de pessoas e assim colaborar no lado "psicológico" do combate à expansão acelerada da gripe suína. A medida é inédita por motivos sanitários (no passado os teatros fecharam por golpes de estado, greves e luto nacional). Segundo Rottemberg, "o dinheiro das entradas será devolvido".

Ao longo dos últimos dez dias, o número de mortos passou de 26 para 60 pessoas na Argentina, país com mais óbitos decorrentes do vírus A(H1N1) na América do Sul. O próprio governo calcula que o total de contaminados possa chegar a 107 mil pessoas.

Embora as autoridades federais e da cidade de Buenos Aires não tenham determinado o fechamento dos teatros, os empresários do setor consideraram que era "conveniente". Além deles, a Orquestra Sinfônica Nacional, o Balé Folclórico Nacional, o Coro Polifônico Nacional, a Orquestra Nacional de Música Argentina Juan de Dios Filiberto, entre outras, anunciaram o cancelamento de suas apresentações. A Biblioteca Nacional também fechará temporariamente, e o Senado suspendeu a sessão de amanhã.

A prefeitura de Mendoza, próxima à fronteira com o Chile, anunciou o fechamento de todos os cinemas, teatros, cassinos, casas de show e discotecas por 15 dias. Os estabelecimentos que não cumprirem a determinação "sofrerão castigos severos", segundo as autoridades. O governo argentino também admitiu que não decretará emergência sanitária porque esse estado já está decretado desde 2002, ano em que o país foi atingido pela dengue. De lá para cá, não foi revogado.

No Brasil, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, destacou ontem que no País morrem muito mais pessoas por gripe comum do que por gripe suína e que a primeira é atualmente um problema de saúde pública mais importante em termos de letalidade. Até ontem o Brasil registrava 905 casos confirmados de gripe suína e 1 morte.

"Em 2006 morreram de complicações da gripe comum 70 mil pessoas. A gripe comum é um problema de saúde pública muito mais sério, do ponto de vista de óbitos", disse. Em razão da decisão de só fazer testes diagnósticos nos casos graves, os boletins oficiais do Brasil não serão mais diários e ocorrerão somente às quartas, a partir da próxima semana.

No Rio Grande do Sul, o secretário da Saúde, Osmar Terra, e prefeitos de municípios que fazem fronteira com Argentina e Uruguai decidiram criar uma força-tarefa para controlar 14 passagens entre os países, consideradas vulneráveis à circulação do vírus A(H1N1). Funcionários da secretaria e dos municípios, com possível ajuda do Exército, serão colocados em postos provisórios para fiscalizar, atender, acolher e encaminhar pessoas que apresentem sinais da doença.Os hospitais da região disponibilizarão leitos.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que vai pedir aos países do G8 que disponibilizem US$ 1 bilhão para lutar contra a gripe suína em países pobres. Ban afirmou que o avanço da gripe suína no Cone Sul é "o que mais preocupa".