Título: G-8 vê economia ainda em perigo e pede tolerância a pacotes de ajuda
Autor: Marin,Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2009, Economia, p. B1

Grupo admite que há sinais de estabilização, defende estratégias de saída para apoio estatal, mas teme incertezas

Denise Chrispim Marin

O G-8, grupo das sete economias mais industrializadas e a Rússia, alertou ontem que a adoção de medidas de estímulo macroeconômico ainda é necessária, apesar dos sinais de que as iniciativas tomadas por seus membros já resultaram em reativação da atividade e recuperação da estabilidade.

Ao abordar a crise na declaração final do encontro, o G-8 indicou que essa linha de ação deve ser tolerada pelos seus opositores, como a Alemanha, porque ainda há "incerteza" sobre a situação da economia global e "riscos significativos", apesar de sinais positivos nos últimos meses. Mas destacou que é preciso adotar uma "estratégia de saída" desse modelo, para a recuperação sustentável das economias do G-8 em longo prazo.

"Apesar de haver sinais de estabilização, inclusive de recuperação do mercado de ações, de declínio nas taxas de spread e de impulso nos negócios e na confiança dos consumidores, a situação continua incerta, e riscos significativos ainda pairam sobre a estabilidade econômica e financeira", informa o item nº 7 da declaração final do G-8.

O grupo, entretanto, decidiu alinhar-se a posições já defendidas pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS) e pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e reconhecer a necessidade de redução, de "maneira suave", do atual desequilíbrio no comércio (transações correntes) entre seus membros.

A receita do G-8, se adotada à risca, envolverá a reconstrução do modelo econômico das economias com superávit nas transações correntes, como China e Japão, para promover o consumo interno como fonte de crescimento, em lugar das exportações. Para os deficitários, como os EUA, o novo modelo deverá ser focado na contenção do consumo interno, sobretudo de produtos e serviços importados.

A preocupação do G-8 toca em um ponto nevrálgico da economia global, que acabou exposto pela crise econômica. Trata-se da lógica que hoje faz da China o maior exportador aos Estados Unidos e maior financiador dos seus gastos públicos.

As recomendações do G-8 não chegam a ser um pacto entre seus membros. O encontro de Áquila se dá entre duas cúpulas do G-20, grupo das maiores economias do mundo, que têm os países do G-8 entre os membros. Desde dezembro de 2008, o G-20 estabeleceu um diálogo mais propício entre desenvolvidos e emergentes e tornou-se o foro adequado para definir saídas para a crise e fixar reformas de médio e longo prazos.

Em paralelo ao encontro do G-8, o grupo das cinco economias emergentes convidadas para a cúpula - o G-5, composto por Brasil, China, Índia, México e África do Sul - voltou a insistir na reforma do sistema financeiro internacional e na necessidade de o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial (Bird) aportarem mais recursos aos países em desenvolvimento afetados pela crise.

Na declaração à imprensa dos líderes do G-20, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reiterou sua posição em favor da das iniciativas já tomadas pelo G-20, que ainda não passam de intenções no papel. Lula criticou o imobilismo do G-20, sobretudo dos sócios desenvolvidos. E aproveitou para defender também a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas. "Estamos sem a guardiã da paz internacional", apelou.

Tanto na declaração política quanto no texto específico sobre comércio, o G-5 reforçou a necessidade de conclusão da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). Porém, o grupo não conseguiu manter o consenso sobre sua previsão de encerramento das negociações ao longo de 2010, como estava previsto nas versões anteriores da declaração.

No texto final do G-8, o descaso com a Rodada Doha foi ainda maior. A declaração não menciona a Rodada nem mesmo no capítulo sobre comércio. O G-8 preferiu se comprometer com a adoção de medidas para promover e facilitar o comércio e os investimentos e para coibir iniciativas protecionistas.