Título: Cresce pressão por mais um pacote de estímulo nos EUA
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/07/2009, Economia, p. B4

Presidente regional do Fed repete assessora de Obama e diz que pacote adicional ""ajudaria"" a economia

Com a situação econômica pior do que a maioria dos analistas imaginava, começam a surgir pressões nos Estados Unidos por mais um pacote fiscal. Ontem, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de Chicago, Charles Evans, reconheceu que algum algum estímulo econômico adicional "ajudaria".

Durante uma conferência em Cingapura, terça-feira, Laura Tyson, uma das mais importantes assessoras econômicas do presidente Barack Obama, afirmou que a economia dos EUA enfrenta uma situação pior do que o imaginado anteriormente e "certos tipos de estímulos ajudariam".

Embora ela tenha frisado que os comentários representam sua visão pessoal, e não a posição oficial da administração, os mercados reagiram negativamente às declarações. O Índice Dow Jones, o mais tradicional da Bolsa de Nova York, perdeu quase 2% na terça-feira.

Ontem, as bolsas operaram no vermelho na maior parte do dia, mas se recuperaram perto do fim do pregão. O Dow Jones avançou 0,18% e a bolsa eletrônica Nasdaq, 0,06%. No Brasil, o Índice da Bolsa de Valores de São Paulo caiu 0,56%. Foi o quinto dia seguido de perdas, que, juntas, chegam a 4,59%.

Evans, membro com direito a voto no Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), que formula a política monetária, evitou especificar qualquer proposta, já que isso é um papel do Congresso americano. "Nós não propomos políticas fiscais", disse Evans.

Logo após Obama chegar ao poder, em janeiro, o Congresso aprovou um pacote de estímulo econômico de US$ 787 bilhões, o qual Evans afirma ter tido um impacto positivo até agora, mas "não tanto o quanto gostaríamos". As declarações foram feitas no momento em que membros do Congresso e do Executivo consideram a ideia de um estímulo adicional, após dados desapontadores do mercado de trabalho em junho.

O Departamento do Trabalho americano reportou na semana passada que a economia perdeu 467 mil empregos em junho, ultrapassando a projeção dos economistas de uma queda de 350 mil empregos.

Evans disse que existe uma possibilidade "substancial" de que a taxa de desemprego chegue a perto de 10% em 2010. Ele indicou que não existe pressa em subir taxas de juros para combater a inflação, mesmo que o Fed tenha expandido seu balanço (o que equivale a jogar dinheiro na economia). Segundo Evans, o núcleo da inflação, que exclui alimentos e energia, está em nível "aceitável".

"As pressões inflacionárias não crescerão sem uma ampla expansão do crédito, e não existem indícios disso no momento." Por isso, Evans comentou que a política monetária "será acomodatícia por um período considerável".

Para Laura, o pacote atual de estímulo dos EUA é de tamanho apropriado e inclui "quantia significativa de investimento em crescimento no longo prazo". Mas um segundo pacote de estímulo, com ênfase em infraestrutura, pode ser necessário para colocar a economia no caminho certo, afirmou.

Sobre o tamanho de um estímulo adicional, ela disse ser muito cedo para quantificar. "Teremos uma ideia melhor mais perto do fim do ano." Ela acrescentou que o pacote de estímulo atual deve criar ou manter 3,5 milhões de empregos, conforme planejado, mas o efeito sobre o desemprego será menor do que o esperado porque a crise foi mais forte nessa área do que que o previsto.

EL-ERIAN ALERTA

Em artigo publicado ontem no jornal britânico Financial Times, o diretor-executivo da Pimco (uma das maiores gestoras de fundos do mundo), Mohamed El-Erian, disse que a "crise está se transformando". "Depois de já ter contaminado o setor imobiliário, o financiamento e o consumo, (a crise) está agora agora ameaçando o potencial e a credibilidade dos aparatos dos executores de políticas econômicas", disse.