Título: Ex-guia dos militares indica local de ossada
Autor: Nossa, Leonencio
Fonte: O Estado de São Paulo, 15/07/2009, Nacional, p. A10

Zé Catingueiro leva missão do Araguaia até lugar onde estariam restos mortais do estudante Rodolfo Troiano

Leonencio Nossa, BREJO GRANDE DO ARAGUAIA

O camponês José Maria Alves da Silva, o "Zé Catingueiro", um dos mateiros do Exército durante a Guerrilha do Araguaia (1972-1975), indicou um ponto na localidade de Tabocão, município de Brejo Grande do Araguaia, onde teria sido enterrado um dos integrantes do movimento de oposição armada à ditadura militar (1964-1985). Pelas descrições do mateiro, o corpo pode ser do estudante mineiro Rodolfo de Carvalho Troiano, que adotou o codinome de "Manoel do A", referência ao destacamento onde atuava. O "moço loiro", como descreveu, foi executado em 12 de janeiro de 1974.

Catingueiro entrou numa picape acompanhado por Paulo Fonteles Filho, representante do governo do Pará, e por Sezostrys Alves da Costa, da Associação dos Torturados no Araguaia, para indicar a possível sepultura do guerrilheiro, que fica a cerca de 60 quilômetros do município de São Domingos do Araguaia. O Estado acompanhou com exclusividade. A notícia do encontro do local foi comemorada com discrição pelos oficiais do Exército, legistas e geólogos.

Depois de 50 quilômetros de rodovia asfaltada, a equipe percorreu 13 quilômetros de estrada de terra e atravessou uma área de pântano e pasto até chegar ao sítio do morador mais antigo do lugar, o agricultor Ademir Nascimento de Souza.

Ex-vizinho de Catingueiro, Souza conversou por longo tempo com Fonteles, que o convenceu a contribuir. "É o momento de pacificar. Precisamos encontrar essas pessoas enterradas aqui para olharmos para o futuro", disse Fonteles. "Agora não precisa ter cisma. O perigo já passou. Hoje estamos recordando por outro motivo", emendou Catingueiro.

REPRESSÃO

Como os carros do grupo ficaram para trás, o agricultor disponibilizou um carro para levar a equipe até um antigo núcleo de casas, derrubadas na época da repressão. Chegando lá, Catingueiro mostrou a Fonteles tocos que serviam de base para uma das casas. Perto de um tronco caído de castanheira e uma mangueira, a 30 metros de um córrego, o corpo do guerrilheiro "loiro" e "alto", segundo descrições do mateiro, foi enterrado.

Catingueiro morava no Tabocão até o começo dos combates entre comunistas e militares, em 1972. Um dos recrutados pela guerrilha, ele mudou de lado e passou a ser mateiro do Exército após ser preso e torturado. Segundo ele, o guerrilheiro sepultado no Tabocão passou a noite numa das casas. Ao sair pela manhã, foi surpreendido por uma patrulha militar. Capturado vivo, foi executado.

Em princípio, se cogitou que o guerrilheiro enterrado ali era o gaúcho Paulo Mendes Rodrigues, o Paulo, que foi morto no combate do Natal de 1973, duas semanas antes da queda de Manoel do A.

Segundo o general Mário Lúcio Alves de Araújo, responsável pela logística dos trabalhos, dos 14 pontos previstos para escavações, oito já foram visitados.