Título: Lula manda manter limite de gastos
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Fonte: O Estado de São Paulo, 14/07/2009, Economia, p. B5

Em reunião de 9 horas, presidente pede a ministros que não gastem mais que a meta nem este ano nem em 2010

Leonardo Goy, Gerusa Marques e Célia Froufe

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva determinou ontem aos ministros que sigam "estritamente" os limites de gastos definidos tanto para este ano quanto para 2010, segundo relato do ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, no final da reunião ministerial que durou mais de nove horas. Bernardo disse que é mínima a margem de ajuste no orçamento deste ano e para 2020 não há como negociar gastos adicionais.

Segundo o ministro, Lula comparou a situação econômica ao orçamento familiar. "Se tem menos salário, menos renda, tem de gastar menos. É a mesma coisa no governo", disse ele. Sendo assim, disse Bernardo, "dificilmente serão atendidas" as demandas de outras pastas para alterar o orçamento. Ele lembrou que houve uma diminuição "expressiva" da receita neste ano, que levou o governo a reduzir as metas fiscais e limites orçamentários dos ministérios.

O ministro garantiu, porém, a manutenção integral da execução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e de programas sociais, prioritários do governo, como o "Minha Casa, Minha Vida", para a construção de casas populares. Em relação ao Bolsa-Família, Bernardo disse que haverá uma reunião na próxima semana para analisar como será feito o reajuste do benefício que será introduzido ainda neste semestre.

Apesar das preocupações manifestadas por Lula na reunião, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou, ao deixar o encontro, que a área fiscal está estruturada. E rebateu as críticas de analistas que têm manifestado preocupação com o crescimento dos gastos públicos. "São infundadas as análises que dizem que estamos caminhando para um desequilíbrio fiscal", afirmou.

Mantega admitiu que o governo reduziu a sua meta de superávit primário, dinheiro que o governo economiza para pagar os juros da dívida, para 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB) este ano, mas garantiu que o desempenho fiscal do Brasil será superior ao de todos os países que compõem o G-20.

Ele estimou que o déficit nominal (diferença entre receitas e despesas, incluindo juros) ficará próximo de 2% do PIB este ano, enquanto o dos Estados Unidos, por exemplo, deverá chegar a 13,7%. "China, Índia e Rússia, países mais parecidos com o Brasil, também terão déficit maior que o nosso."

Apesar de, durante a reunião, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, ter afirmado que já há instituições projetando crescimento do PIB brasileiro de até 5% em 2010, Mantega preferiu manter a cautela e continuar com a projeção de 4,5%. Para este ano, sua previsão é de que a economia vai crescer 1%.

Já o presidente Lula, segundo Bernardo, teria dito estar mais otimista com a economia brasileira do que a equipe econômica. "Ele acha que vamos ter crescimento maior do que tem sido projetado", disse. Lula interveio ainda quando Meirelles comentou que, com a queda da taxa básica, a Selic, o juro real do Brasil hoje é de 4,7% ao ano. "Imagine que na Constituinte tinha gente pensando em tabelar os juros em 12%."

Mantega relatou que fez uma análise global da economia. "A conclusão é que há melhora do quadro da economia mundial", pontuou, citando que já há indícios da volta da confiança de empresários e consumidores, bem como do crédito. Ele enfatizou, porém, que os países avançados ainda passarão por dificuldades e, por isso, o Brasil não pode contar muito com a recuperação internacional em um breve espaço de tempo. "As economias dos países emergentes estão se descolando e apresentando resultados melhores do que a dos avançados", comparou.