Título: Disputa política dificulta sucessão na Receita
Autor: Fernandes, Adriana; Simão, Edna
Fonte: O Estado de São Paulo, 16/07/2009, Economia, p. B1

A disputa política na Receita Federal impediu o ministro da Fazenda, Guido Mantega, de definir o nome do substituto da secretária Lina Vieira. Os superintendentes - que ocupam postos-chave - resistem a nomes que não sejam dos quadros da Receita, como o do presidente do INSS, Waldir Simão, e tampouco de funcionários ligados ao ex-secretário Jorge Rachid. Existia ainda a alternativa de colocar o secretário executivo, Nelson Machado, mas ele não quer comandar a Receita. Sem alternativa no momento, Mantega indicou como interino o secretário adjunto, Otacílio Cartaxo.

O desfecho para a crise acontecerá somente após o período de férias de Mantega, no dia 26. A dificuldade do ministro para conduzir o processo de substituição de Lina contrariou o Planalto. Há tempos, segundo fontes do governo, Lula manifestou insatisfação com o desempenho de Lina e demonstrou preocupação com as sucessivas quedas na arrecadação.

Lula esperava que o ministro tivesse um nome para substituí-la. "Não sei se ele já apresentou. Mas, na hora que você tira alguém, tem de ter alguém para colocar no lugar imediatamente, só isso", disse minutos antes de uma reunião com Mantega.

A interinidade de Cartaxo foi confirmada pelo ministério no fim da manhã. Homem de confiança de Lina, a substituição significa que nada muda na Receita, pelo menos por enquanto. "Todas as diretrizes adotadas (por Lina), tomadas em consonância com as orientações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, continuarão a ser seguidas." Antes de divulgar a nota, Mantega esteve reunido com os superintendentes e o próprio Cartaxo. "De fato, atendeu a expectativa da gente", disse um dos superintendentes ao se referir à escolha do adjunto.

Mantega, no entanto, saiu desgastado do episódio, fato que era reconhecido ontem até por seus assessores mais próximos. "Estava tudo tão bem e, aí, acontece esse problema na Receita", admitiu um deles.

A substituição de Lina se tornou um problema complexo porque é preciso definir um nome capaz de reorganizar as bases corporativas. O diagnóstico do problema varia de acordo com o grupo que disputa o poder na Receita. Os adversários de Lina dizem que a arrecadação caiu muito porque ela desmontou mecanismos de fiscalização. "Serão necessários meses para reestruturar o órgão e tentar evitar um desastre ainda maior", disse um ex-dirigente do órgão.

Já os defensores de Lina dizem que "os paulistas derrubaram a ministra", referindo-se à decisão da secretária de fortalecer a delegacia da Receita em São Paulo, especializada na fiscalização dos bancos. E alguns deles admitem que o modo como foram tratadas as questões da Petrobrás também pesou. "A Lina não poderia ter exposto a Petrobrás daquela forma", disse uma fonte.