Título: Pizzaiolos de ofício reclamam do presidente
Autor: Lopes, Eugênia
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/07/2009, Nacional, p. A7

Categoria distribui panfleto contra Lula nas pizzarias

Roldão Arruda, SÃO PAULO

Os pizzaiolos não gostaram das declarações do presidente Lula, quando os comparou a senadores que ele considera irresponsáveis, por abrirem CPIs que não dão em nada, ou, como se costuma dizer, acabam em pizza. Ontem, o sindicato paulista que representa esse grupo de trabalhadores chegou a divulgar nota de desagravo, na qual afirma que "uma profissão digna e que merece respeito de toda a sociedade" foi ofendida.

A nota é indignada. Diz que a conotação dada pelo presidente foi depreciativa. Assinala que a Constituição protege todas as categorias de trabalhadores e não se pode destinar a qualquer profissão nenhuma palavra "que não seja emprego, salário e um futuro digno". Lembra até que se trata se um "ofício secular, nascido em Nápoles", que "se ocupa de, democraticamente, produzir o alimento que sacia a fome de ricos e pobres".

Certo trecho parece ironizar as histórias que Lula adora contar, para todo tipo de plateia, sobre seu passado como torneiro mecânico - profissão hoje extinta, mas que já foi considerada das mais especializadas. Assim como o presidente, a nota exalta as técnicas dos pizzaiolos. "O profissional suporta as altas temperaturas do forno a lenha, numa luta incansável contra o tempo, com a destreza de sempre se lembrar de individualizar cada matéria prima..." E por aí vai. Logo adiante, já prevendo a desculpa de que a referência foi feita de forma impensada, sem a pretensão de ofender, o sindicato afirma que nem assim se justifica: "Não pode, quem quer que seja, lançar para o centro do debate, em um palco tão peculiar (o embate entre o Executivo e a oposição parlamentar) nenhuma qualificação que não diga respeito ao trabalhador."

Para o pizzaiolo Hamilton Mello Júnior, mais conhecido como Melão, da pizzaria I Vitelloni, o presidente Lula pode ser um político sagaz, mas está longe de entender da arte da pizza. "Ele acha que basta aglomerar os ingredientes, sem preocupar em trabalhar a massa, sem compactar. Ele contemporiza com todo mundo, rodeia, não vai ao fundo das questões. Não é, enfim, um bom pizzaiolo."

Sobre seu trabalho, Melão diz que se considera um artesão. "Sou tão especializado quanto ele era no seu tempo de operário. Só que a profissão dele acabou e a minha continua."

Ontem, os representantes do Sindicato dos Trabalhadores em Gastronomia e Hotelaria de São Paulo ainda foram às pizzarias da cidade entregar cópias da nota aos pizzaiolos. Não se sabe ao certo quantos eles são. Mas, diz o sindicato, entre chefes de cozinha, garçons, lavadores de prato, enfim, todo o pessoal envolvido com cozinha, existem 450 mil só região metropolitana de São Paulo.