Título: Mortes por gripe suína chegam a 11; vírus H1N1 já circula no País
Autor: Formenti, Lígia
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/07/2009, Vida, p. A15

Três Estados registram óbitos; Brasil é o 8.º país a ter contágio sem vínculo com caso contraído no exterior

Lígia Formenti, BRASÍLIA

O Ministério da Saúde reconheceu ontem que o Brasil já tem paciente que foi contaminado com a gripe suína sem que tivesse vínculo com pessoas infectadas em outros países, ou seja, há transmissão sustentada. A decisão de declarar que o vírus A(H1N1) circula em território nacional ocorreu depois da análise do caso de uma estudante de 11 anos, de Osasco, que morreu dia 30 de junho, conforme antecipou reportagem do Estado publicada ontem.

Autoridades sanitárias não conseguiram identificar como a menina contraiu o vírus causador da doença - algo indispensável para que a transmissão continuasse a ser considerada como limitada. O anúncio foi feito no mesmo dia em que mais 7 mortes pela doença foram confirmadas: 5 no Rio Grande do Sul, 1 em São Paulo e 1 no Rio. Com esses resultados, sobe para 11 o número de óbitos.

Agora, o Brasil passa a ser o 8º país no mundo com transmissão sustentada. Já integram esse grupo Estados Unidos, México, Canadá, Chile, Argentina, Austrália e Reino Unido.

"A situação não se agravou. Esta é a detecção prática de que o vírus mudou o padrão de presença no País", disse o ministro da Saúde, José Gomes Temporão. De acordo com ele, a nova classificação não provoca alteração sobre a forma de controle da doença. "Tomamos todas as providências." A circulação do vírus está confirmada em São Paulo. Mas Temporão admitiu que há grande possibilidade de que haja também transmissão sustentada no Rio Grande do Sul. Por vários motivos: a proximidade com Chile e Argentina, países onde há circulação do vírus; o grande número de casos registrados e suspeitos no Estado, além do fluxo de pessoas.

Apesar da constatação, o ministro disse não haver necessidade de as pessoas evitarem viagens, seja para São Paulo ou Rio Grande do Sul. "Não há nada da literatura que diga que recomende esse tipo de providência", disse. Por outro lado, Temporão manteve a recomendação de que as pessoas consideradas mais vulneráveis para a doença evitem viajar para a Argentina. E justificou a diferença de critérios: na Argentina o total de casos é muito maior.

Temporão defendeu-se das críticas feitas pelo que ele definiu como "especialistas entre aspas" sobre a restrição de diagnósticos de H1N1. Ele observou que o tratamento tem de ser definido pelo exame clínico do paciente, não de acordo com resultado dos exames. "Além disso, pandemias são eventos prolongados. É preciso fazer uso racional de recursos e de insumos." O ministro admitiu, porém, que com essa nova conduta, parte dos casos leves de gripe suína não será confirmada e, com isso, o número total de pacientes poderá ser menor do que o real.

Garantindo não haver motivo para preocupação, o ministro observou, porém, ser preciso que todas as pessoas com febre, dor de garganta, tosse, dores musculares procurem o posto de saúde ou o médico de confiança. "Não é para ficar em casa tomando chazinho." Hospitais de referência, disse, devem ficar reservados para casos mais graves. "Existem 68 no País e, nessas unidades, mil leitos com isolamento adequado."

Na próxima semana, 50 mil doses do antiviral oseltamivir deverão chegar ao País. Até setembro, mais 750 mil doses serão entregues pelo fabricante. Além disso, o País comprou 160 kits com respirador e monitor, que serão distribuídos para centros de referência do País.