Título: Experts têm dúvida sobre contagem dos casos
Autor: Thomé, Clarissa , Sorano,Vitor ; Hahn,Sandra
Fonte: O Estado de São Paulo, 17/07/2009, Vida, p. A16

A livre circulação do vírus A(H1N1) informada ontem pelas autoridades, aliada à decisão anterior de não testar todos os casos suspeitos da nova gripe, deixa um ponto de interrogação sobre como a evolução da doença no Brasil será acompanhada, alertam especialistas.

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, tem enfatizado que a rede sentinela da gripe, composta por 63 unidades de saúde que colhem secreções de pacientes com sintomas gripais para verificar a circulação do vírus, poderia monitorar o avanço da doença.

No entanto, o próprio ministério, na semana passada, reconheceu em documento que grande parte da rede, operada pelos Estados, tem falhas e descontinuidades, como número de amostras coletadas menor do que o esperado.

"O que fica faltando é (determinar) qual a alternativa para acompanhar a ocorrência de casos", afirmou o epidemiologista Expedito Luna, da Universidade de São Paulo. Ele defende que as unidades de saúde passem a contar os casos de pessoas com sinais de gripe semanalmente. Já enviou inclusive a sugestão à Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo.Dessa forma, destaca, seria possível comparar os dados e verificar a ocorrência ou não de aumentos significativos. Segundo Luna, uma medida semelhante já é aplicada para o monitoramento de doenças diarreicas.

LETALIDADE QUESTIONADA

Os médicos dizem ainda que as taxas de mortalidade pela gripe são cada vez menos importantes para avaliar a evolução da doença, uma vez que o denominador - o número real de casos da gripe - ainda é desconhecido. Como somente casos graves são testados, é certa a explosão da taxa, mas esse dado não reflete o problema real. Para Luna, seria o caso de se tratar a doença como a dengue, notificando mesmo casos não comprovados laboratorialmente. "Nunca saberemos qual é a taxa de letalidade", afirma o epidemiologista Roberto Fizman, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. "A grande questão é que precisamos da vigilância (sobre a evolução da doença) e da assistência. E sabemos que no Brasil a assistência em muitos locais é capenga."