Título: Brasil não deve contar com reação do mercado americano
Autor: Marin, Denise Chrispim
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/07/2009, Economia, p. B1

Em encontro reservado, Obama diz a Lula que os EUA não vão recuperar nível de consumo do período pré-crise

Denise Chrispim Marin, ÁQUILA

Os Estados Unidos não conseguirão recuperar os níveis de consumo do período imediatamente anterior à crise econômica. A afirmação foi feita pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em encontro reservado com seu colega Luiz Inácio Lula da Silva, ontem. Obama alertou que os países cujo crescimento econômico vinha sendo impulsionado pelas exportações ao mercado americano, como a China e as economias do Sudeste Asiático, devem agora se voltar para políticas de impulso ao consumo interno. Segundo o assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, que acompanhou o encontro, Obama disse a Lula que houve uma transformação na economia real americana. O presidente americano enfatizou que, apesar da injeção de US$ 800 bilhões nos pacotes de recuperação anunciados pela Casa Branca desde o ano passado, haveria trilhões de dólares "perdidos" na economia americana.

Durante o encontro, o presidente americano enumerou a Lula os esforços de seu governo para recuperar a estabilidade do sistema financeiro dos EUA. Discorreu, em especial, sobre o novo modelo de regulação das instituições do setor.

Lula também detalhou as medidas adotadas pelo País e informou que a indústria automobilística brasileira alcançara níveis de produção mais altos que os dos anos anteriores, graças ao fato de que a maior parte das vendas está orientada ao mercado interno, que respondeu positivamente à desoneração fiscal adotada desde o início de 2009.

A preocupação de Lula, que pediu o encontro a Obama, concentrou-se nas soluções já apontadas em âmbito multilateral. O brasileiro expôs ao americano seu temor de que os países desenvolvidos "empurrem com a barriga" as medidas recomendadas nas duas reuniões do G-20 para deixar a economia mundial voltar a um nível mínimo de estabilidade, sem executar as reformas com as quais seus líderes se comprometeram desde dezembro passado.

Lula reclamou que a retomada das negociações da Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC) e a liberação de recursos do Fundo Monetário Internacional (FMI) a países em desenvolvimento que enfrentam dificuldades por causa da crise, mesmo com os novos aportes, continuam no papel. Para Lula, o encontro de cúpula do G-20 marcado para setembro em Pittsburgh, nos EUA, poderia cair no vazio com tanta omissão acumulada na implementação de suas receitas para o mundo sair da crise e reformular a arquitetura econômica global.